As campanhas de propaganda/marketing
das principais organizações na maioria dos
países (o Brasil não é uma exceção)
costumam ser estreladas por celebridades, em particular
do mundo artístico (atores de cinema ou televisão)
ou esportivo (esportistas ou técnicos), ou mesmo
executivos bem sucedidos.
Equivocadamente, muitas
empresas (e evidentemente suas agências) acreditam
que o sucesso e o prestígio destas personalidades
facilmente se transportam para os seus negócios e
que dispor delas é garantir lucro certo.
A experiência
e sobretudo as pesquisas têm demonstrado que não
é bem assim. A investigação mais recente
e mais abrangente sobre essa questão foi realizada
no ano passado pela Millward Brown, famosa pela amplitude
e “inteligência” de seu banco de dados
e de sua metodologia ( Celebrity Dynamics), que mede o relacionamento
dos consumidores com as celebridades, e está especialmente
interessada em avaliar em que medida elas mobilizam ou seduzem
fãs ou seguidores leais.
A primeira constatação
da pesquisa da Millward Brown (após a análise
de mais de 30 mil propagandas existentes em seu database)
foi de que mais de 10% das campanhas (exatamente 12%) incluem
gente famosa. E isso é realmente bom? Funciona? Vende
mais?
Infelizmente, para
os anunciantes que costumam desembolsar grandes somas para
cobrir o “cachê” das celebridades”,
nem sempre.
Os pesquisadores reconhecem
que há vantagens quando essa utilização
é a adequada, mas advertem para riscos importantes
e que devem ser considerados para a adoção
dessa estratégia de propaganda/marketing e vendas.
Em primeiro lugar,
celebridades podem ser pouco conhecidas do público
que consome o produto ou usa o serviço anunciado
e, desta forma, não são percebidas como tal,
deixando, portanto, de agregar valor à peça
publicitária ou à campanha de maneira geral
(o que significa também que pouco acresce à
marca). Um jogador de futebol (vamos esquecer os Ronaldinhos
ou Pelés, que são, pelo menos no Brasil, “caras”
carimbadas), um astro do basquete ou mesmo um artista pode
ser menos “famoso” para determinados segmentos
do público ou mesmo ser completamente desconhecido.
Quem garante que as donas de casa brasileiras sabem que
foi George Foreman, uma celebridade no mundo do box americano?
E o que ele tem a ver com a comida que ela anda preparando
para a família?
Em segundo lugar, é
preciso ter em mente que não basta dispor de uma
celebridade, mas existir uma relação inequívoca
entre a sua imagem e o produto, o serviço ou a marca.
Uma universidade paulista utilizou o Pelé para chamar
a atenção para a sua cínica e equivocada
campanha de responsabilidade social (continua usando celebridades
para isso). Pelé tem algo a ver com educação
ou é exatamente o exemplo de que é possível
vencer na vida sem passar pelos bancos escolares? Pelé
(o maior jogador do planeta) é realmente um ícone
da responsabilidade social (não reconheceu a própria
filha legítima, precocemente falecida sem o apoio
do pai famoso e envolveu-se em episódios nada éticos).
O técnico Bernardinho é a celebridade adequada
para atrair alunos para cursos de pós-graduação
realizados a toque de caixa ou é , ao contrário,
o exemplo de que o sucesso só chega com muito esforço
e competência?
Finalmente, a celebridade
pode ter uma imagem controversa, que varia conforme o público
que a contempla e, mais ainda, esta imagem pode se alterar
por uma circunstância qualquer enquanto dura a campanha,
colocando-a definitivamente sob risco. A Daniella Cicarelli
seria a escolha ideal como celebridade para figurar em qualquer
tipo de campanha? Ela agregou mais valor à marca
enquanto esposa do Ronaldinho Fenômeno ou depois da
separação? Em que medida o episódio
da tentativa de censura à divulgação
do vídeo de seu “amasso” praiano no You
Tube comprometeu sua imagem junto a determinados públicos?
Qual é efetivamente a imagem dela?
Pessoas famosas não
são necessariamente a pessoa certa para qualquer
campanha. Evidentemente, e a mesma pesquisa da Millward
Brown constatou isso, quando essa associação
é bem feita, as vantagens são visíveis.
As celebridades chamam a atenção da audiência,
o que é fundamentalmente importante nesta sociedade
midiática poluída de mensagens. Elas podem
efetivamente emprestar os seus atributos à marca
e isso ocorre quando celebridade e produto compartilham
valores e públicos comuns.
O uso de celebridades
nas campanhas publicitárias varia de país
para país. No Japão, 23% das propagandas incluem
pessoas famosas, porcentagem que é de 8% para o Brasil,
de 7% para os EUA e de apenas 5% na Espanha e na França
e de 4% no México. A valorização da
celebridade tem a ver, portanto, com a cultura.
Desta forma, quando
encontrar uma celebridade na televisão ou nas revistas,
analise com cuidado esta adequação. Sobretudo,
não deixe de considerar estes aspectos quando, como
gestor da comunicação de uma empresa ou organização,
estiver disposta a lançar mão de uma celebridade
para vender produtos ou serviços.
Em tempo: as celebridades
também deveriam ter os mesmos cuidados quando, por
um punhado de reais, emprestam seu rosto, seu corpo, sua
imagem para determinadas empresas. O processo também
atua de forma inversa: algumas organizações
costumam contaminar, com sua imagem negativa, as celebridades.
Se você que está nos dando a honra desta leitura
neste momento for alguma celebridade, pense bem antes de
emprestar a sua imagem para a Monsanto, a Souza Cruz ou
o Consórcio Via Amarela (o da cratera do metrô).
Se possível, por dinheiro algum, aceite associar
sua imagem ao Paulo Maluf ou a outros políticos com
o mesmo perfil. A sua carreira e o seu bolso poderão
estar definitivamente condenados. Coisas da comunicação
de massa.