Objetivos
Conhecer o perfil do house-organ no Brasil,
identificando seus parâmetros básicos: tempo de fundação,
periodicidade , tiragem e setor/departamento da empresa responsável
por sua edição.
Identificar o grau de participação dos
funcionários na elaboração da pauta dos house-organs.
Avaliar a evolução dos house-organs (comparação
décadas 70/80 com a década de 90).
Metodologia
A pesquisa foi realizada em duas etapas: 1) Os dados sobre
os parâmetros básicos dos house-organs foram obtidos a partir
da aplicação de um questionário junto a 67 editores de house-organs,
vinculados a 54 empresas. Isso significa que algumas empresas
participaram com mais de um veículo na pesquisa; 2) Análise
da temática de 20 house-organs, escolhidos aleatoriamente.
Os house-organs, para efeito de comparação, foram divididos
em 3 categorias: boletins, jornais e revistas, mas todos eles
tinham como alvo exclusivo ou prioritário o público interno.
Hipóteses principais
Uma porcentagem importante dos house-organs que circulam nas
empresas foi fundada na década de 90, refletindo o crescimento
da importância da comunicação interna nas organizações. Em
sua maioria, eles têm periodicidade mensal ou superior e uma
tiragem inferior a 5.000 exemplares.
Os funcionários não participam efetivamente do processo de
produção dos house-organs, isto é, os house-organs não são
"deles" mas "para" eles.
A área de Comunicação (Departamento, Gerência/ Diretoria)
é a responsável pela edição dos house-organs, mas eles, necessáriamente,
são aprovados por outros Setores da empresa antes de sua edição/circulação.
Um número significativo de house-organs é produzido por terceiros,
ou seja, embora sob a responsabilidade da área de Comunicação
das empresas, é realizado por agências/assessorias externas.
Este fato reflete a tendência atual de enxugar os quadros
de Comunicação das empresas.
Comparativamente às décadas de 70/80, os house-organs da década
de 90 exibem uma evolução importante, com a adoção da segmentação
(produção de house-organs para atender à demanda de públicos-alvo
específicos), debate de temas modernos (cidadania, responsabilidade
social, qualidade), produção visual mais elaborada, explicitação
das noções de cliente, de gestão de conhecimento, marca, imagem
etc.
Dados principais
Periodicidade dos house-organs
Distribuição por tipo de house-organ
Tipo periódico |
Mensal |
Superior a mensal |
Inferior a mensal |
Jornal |
73,86% |
12,30% |
13,84% |
Revista |
36,85% |
63,15% |
00,00% |
Boletim |
22,23% |
00,00% |
77,77% |
Tiragem dos house-organs
Distribuição por tipo de house-organ
Tipo de periódiico |
Menos 2.000 |
2000-5000 |
Mais de 5.000 |
Jornal |
10,44% |
43,62% |
45,94% |
Revista |
21,05% |
15,80% |
63,15% |
Boletim |
72,72% |
09,10% |
18,18% |
Área responsável pelo house-organ
Distribuição por tipo de house-organ
Tipo de periódico |
Comunicação Social |
Outra área |
Jornal |
86,48% |
13,52% |
Revista |
63,15% |
36,85% |
Boletim |
81,18% |
18,82% |
Produção do house-organ
Distribuição por tipo de house-organ
Tipo de periódico |
Internamente |
Externamente
ou ambos |
Jornal |
63,88% |
36,12% |
Revista |
31,57% |
67,43% |
Boletim |
100,00% |
00,00% |
Produção do house-organ
Distribuição por tipo de house-organ
Tipo de periódico |
3 ou mais profissionais |
Menos de 3 profissionais |
Jornal |
78,37% |
21,63% |
Revista |
78,94% |
11,06% |
Boletim |
18,18% |
81,82% |
Aprovação do house-organ
por outra área*
Porcentagem em relação ao total
* Outra área significa
Setor/Departamento/Gerência/Diretoria que não a de Comunicação
Participação dos funcionários na
produção
Distribuição por tipo de house-organ
Tipo de periódico |
Funcionários participam |
Funcionários
não participam |
Jornal |
64,86% |
33,14% |
Revista |
84,21% |
15,79% |
Boletim |
54,54% |
46,46% |
Principais conclusões
Um número significativo de jornais foi
fundado antes da década de 90 (51,67%), o que significa que
os house-organs costumam Ter vida longa, incorporando-se ao
processo de comunicação interna das empresas. Mesmo assim,
deve ser registrado que a década de 90 foi pródiga para o
lançamento de novas publicações empresariais voltadas ao público
interno.
A periodicidade dos jornais continua sendo muito elástica
(apenas 27,42% deles circulam com periodicidade inferior à
mensal), o parece inadequado para atender às demandas da Sociedade
da Informação, respaldada na agilidade do processo de transmissão.
Mantida esta tendência na era do jornalismo on line, pode-se
admitir que, gradativamente, os house-organs impressos perderão
a sua utilidade, permanecendo apenas como mero espaço para
registro dos fatos. Mantida a situação atual, ele não poderá,
evidentemente, cumprir a sua função estratégica de favorecer
circulação ágil? das informações, estimular o debate e moldar
uma organização voltada para o conhecimento.
No que diz respeito à tiragem, observa-se que muitos deles
têm uma penetração superior à da média dos jornais brasileiros.
Alguns house-organs exibem tiragem maior do que muitos periódicos
regionais, o que confirma a sua importância e a sua responsabilidade
como veículo de comunicação. Sabe-se, inclusive, que, em muitos
casos, ele é o único veículo impresso acessível aos funcionários
da empresa.
A participação dos funcionários na produção dos jornais, embora
pareça expressiva (supera os 50% na média e chega a mais de
84% nas revistas), ainda é limitada a colaborações. Geralmente,
eles não integram o grupo que efetivamente decide a pauta
do house-organ.
A área de Comunicação Social responde pela maioria dos house-organs
produzidos pelas empresas, mas, sobretudo para as revistas,
normalmente as de produção mais elaborada, a área fica à margem
do processo de decisão, o que pode, em muitos casos, comprometer
a qualidade do produto final.
Uma porcentagem expressiva de house-organs já é produzida
por agências/assessorias externas. Isto vale mais para as
revistas (68,43% delas são feitas fora da empresa) do que
para os jornais (apenas 36,12% produzidos externamente). Já
os boletins são produzidos exclusivamente pelos setores da
empresa. A justificativa é que as revistas exigem uma edição
mais elaborada e uma equipe de profissionais maior e mais
qualificada, situação necessariamente não assumida pelas empresas
( a relação custo x benefício seria desvantajosa). Os boletins,
por seu turno, por exigirem maior agilidade e serem editorialmente
menos elaborados, não são repassados a terceiros, sendo produzidos
internamente.
A análise dos house-organs evidencia também uma evolução tímida
em relação ao panorama observado nas décadas anteriores.
Característica dos house-organs nas décadas de 70/80
House-organ como registro
Conteúdo focado em aspectos físico ou técnicos da produção
(tecnologia, equipamentos, instalações). Presença ostensiva
da Diretoria (promoção pessoal). Desestímulo ao debate e à
controvérsia.
Espaço significativo para entretenimento
e para valorizar fidelidade dos funcionários ( horóscopo,
palavras cruzadas, humor, aniversariantes do mês e prêmios
aos veteranos, por exemplo).
Produção editorial prioritariamente interna. O controle da
informação não permitia que pessoas externas tivessem acesso
à informação e ao processo de tomada de decisões da empresa.
Equipe desproporcionalmente numerosa (repórteres, diagramadores,
fotógrafos, editores etc). Muitas vezes, um house-organ de
apenas 4 ou 8 páginas trazia no expediente um número elevado
de profissionais.
Pouca expressão visual. Os house-organs eram visualmente pouco
atraentes, caracterizando-se por uma diagramação pobre, muitas
vezes parecendo um álbum de figurinhas.
Responsabilidade estava em áreas que não a de Comunicação
(especialmente Recursos Humanos).
Característica dos house-organs na década de 90
Conteúdo continua focado no "elogio à empresa",
com adjetivação excessiva e, embora menos ostensivamente,
praticando o controle da informação. Em geral, ainda se restringe
ao mero registro de fatos.
A participação dos funcionários continua sendo tímida, na
verdade uma participação consentida (classificados, opiniões
que legitimam as ações da empresa).
Não há destaque para os empreendedores, aos críticos e aos
problemas da empresa. Rejeição ou temor à controvérsia, com
reduzido espaço para a opinião. A empresa continua sendo vista
como extensão do lar e não, como expressão das tensões inerentes
à relação capital x trabalho.
Discurso conformista.
As matérias, salvo raras exceções, não trabalham questões
relacionadas com gestão, liderança, mercado e sobretudo concorrência,
como se houvesse receio de expor o público interno à guerra
do mercado.
A segmentação, embora tenha aumentado (algumas empresas produzem
veículos para segmentos específicos do público interno), é,
em geral, incipiente. Prevalece o veículo "bombril",
com mil e uma utilidades, usado para todos os públicos de
interesse da empresa, o que causa problemas na definição da
pauta e da linguagem.
Pouca atenção à função educativa ou de formação (comunicação,
cultura, saúde).
Segregação pela beleza: nos house-organs, em particular nas
revistas, só tem vez para gente bonita, sorridente, criando
um problema de identificação para os colegas do "chão
de fábrica". Os operários que aparecem nos veículos têm
que estar mais do que limpos: devem Ter um perfil que se aproxima
dos colegas do escritório.,o que evidencia um preconceito.
Observa-se uma melhora considerável na produção visual dos
house-organs, sobretudo nas revistas e em alguns jornais.
Uma parcela, porém, considerável ainda exibe uma poluição
visual, com um número abusivo de pequenas fotos.
Embora de maneira ainda tímida, alguns veículos começam a
valorizar os ativos intangíveis (marca, informação privilegiada)
e abrem espaço para artigos e opiniões de consultores e especialistas.
Isso vale particularmente para revistas, que são pensadas
tendo em vista a gerência ou os clientes da empresa.
O cliente começa a aparecer, mas ainda vem marcado por uma
perspectiva ultrapassada (ele não é o parceiro, com quem se
divide responsabilidades, mas alguém por quem se "baba".
A concorrência e o mercado são realidades ainda completamente
distantes da pauta dos house-organs. Algumas matérias apenas
sugerem estas realidades, mas temem aprofundar o debate, dando
a impressão de que a empresa teme compartilhar estas informações
com os seus colaboradores. Fica difícil imaginar uma mobilização
em prol da qualidade e da produtividade, se não se estabelecem
parâmetros para comparação. As empresas, nos seus house-organs,
continuam vendendo a idéia de que estão sozinhas no mercado,
o que é contraproducente para se criar uma idéia de mercado
e de que o sucesso da empresa no mercado é responsabilidade
de todos e gera vantagens para todos. |