:: Monet, o mico jornalístico da NET

Wilson da Costa Bueno*

       A Net demonstra não conhecer o perfil do seu assinante e, o que é pior, tem pouca intimidade com o negócio em que atua. Não fosse isso não teria lançado, em abril, a revista Monet com uma proposta editorial que contraria os interesses e expectativas de seus leitores. Na verdade, há quem acredite que a Net nem sabe ao menos os reais motivos pelos quais os seus assinantes decidem pagar por uma revista de programação de TV.
       A história é fácil de se contar, mas fica difícil entender como algumas empresas conseguem sobreviver (sobreviverão?) no mercado , ao se mostrarem tão distantes de seus públicos de interesse.
       Vamos lá com o caso. Por algum motivo, a Net chegou à conclusão de que a revista anterior era pouco atraente para os seus leitores. Certamente, ela não era mesmo a ideal, como, provavelmente, não são todas as revistas porque, convenhamos, é complicado atender aos interesses de todos os leitores de uma publicação . Mas a mudança foi dramática e inoportuna.Uma miopia em marketing editorial.
       A Net afirma que fez uma pesquisa que subsidiou a mudança, mas, pela reação da "platéia", de duas uma: ou não fez pesquisa alguma ou ela estava "furada".
       Fica evidente, para quem é do "ramo", que a Net, atolada em dívidas (perdeu mais de 100 mil assinantes em 2002) e está num "baita" vermelho, pretendeu usar a revista, que seus assinantes pagam, para fazer o que em jornalismo chamamos de "malho", ou seja buscar assuntos que possam gerar publicidade e aumentar a receita da empresa, já tão combalida.
       Não pensou nos seus assinantes, que pagam pela revista, mas em aproveitar-se deles para seduzir anunciantes, numa jogada (péssima) de marketing , que só pode ter sido arquitetada por alguém que pensa apenas em obter lucros a todo o custo. Tem olhos para ver os bolsos , mas não tem cérebro. Quem passa os olhos pelo primeiro número da Monet, imagina que aquilo é um "malho" só, um cheiro horrível de matérias pagas, um catálogo a quatro cores, bonito e inútil.
       A programação? Ora, a programação, que é base de uma revista de televisão, foi para a "cucuia", espremida, resumida, incompleta, num tremendo desrespeito ao assinante.
       Não deu outra: a reação foi imediata. Chiadeira prá todo lado, porque o público está mais atento a estas "malandragens" e não está deixando "barato" (a revista é cara, mais ainda se não puder servir para aquilo a que ela pretensamente se propõe).
       Articulistas da área, como Ivan Ângelo, no Jornal da Tarde, e Daniel Castro, na Folha de S. Paulo, dentre outros, puseram também, felizmente, a boca no trombone. A Monet é mesmo difícil de engolir.
       A Net parece que percebeu o mico (este mico, meus amigos, tem o tamanho de um gorila!) e admite mudar (a menos que ela queira perder mais um montão de assinantes, ele deve fazer alguma coisa urgentemente!).
       Quem se dispuser a ler a revista com mais atenção, perceberá, também, outras barbaridades. Só para não "passar batido", vamos à página 161. Num quadrinho, intitulado Você sabia, está lá: "Você sabia que repetição não é reprise. Na verdade, é mais uma oportunidade para você assistir o seu programa favorito. Por isso os canais repetem suas atrações para que você possa ter sempre a chance de ser programa preferido ou assistir novamente aquele programa que você adorou. Você pode chamar isso de conforto, comodidade ou até de conveniência. Menos de reprise."
       Acho que, definitivamente, a Net imagina que seus assinantes não tenham cérebro. Talvez , por isso, tenha resumido a programação na Monet e retirado dela a indicação correta do que costuma ser apresentado em seus programas. Para que não se possa perceber, nitidamente, o número incansável de reprises (reprise é até uma palavra bonita para expressar o que a Net faz com a gente) em seus canais pagos. Em tempo: é mais do que reprise, é sacanagem, desrespeito ao assinante, cara de pau. Do jeito que as coisas vão por lá, o número de assinantes tende a despencar. Profissionalismo, respeito e óleo de peroba fazem muito bem. Está na hora de algumas empresas brasileiras , como a Net, abrirem os olhos. Com ela, a gente já tem os nossos bem abertos. (De um assinante Net, que tem a certeza, pelos resultados da empresa, de que idiotas são eles!).

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* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.

 
 
 
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