*Wilson da Costa Bueno
Muitas corporações, em todo o mundo, têm buscado resolver suas crises de forma não ética, afrontando, de maneira acintosa, a ética, a transparência e a responsabilidade social.
Recentemente, a Monsanto se viu envolvida em denúncia confirmada de suborno na Indonésia; a Enron deu bilhões de prejuízos aos seus acionistas; a Volks esteve e está envolvida em crises e escândalos que parecem não ter fim (inclusive com campanhas que não respeitam valores importantes na sociedade brasileira) e, entre nós, a Petrobras, apesar do discurso e dos milhões investidos em comunicação, tem aparecido com freqüência nas páginas de política e de meio ambiente (tem vazado menos, é verdade mas em compensação a menção da empresa em noticiário sobre escândalos políticos cresce a cada dia ). Os casos de trabalho escravo no Norte do País, a condenação da Ambev por assédio moral, e os problemas envolvendo a Telemar, a C & A com seus fornecedores pouco éticos etc confirmam a tese de que a responsabilidade social é, infelizmente, para muitas empresas, um ideal distante a ser alcançado.
O episódio mais contundente neste momento é o da quebra de sigilo telefônico de inúmeros jornalistas pela HP, a gigante do mundo da informática, com o objetivo de identificar , a partir das conversas telefônicas, o diretor que, repetidamente, repassava informações privadas para a imprensa.
A privacidade dos cidadãos, ainda que o Governo Bush esteja sempre atentando contra ela, é um direito inegociável e toda vez que uma autoridade (o ex-ministro Palocci pagou caro por isso e ainda deve muito à Justiça e à sociedade) ou uma empresa afronta contra ela, deve merecer o repúdio de todos.
A crise de imagem da HP certamente será emblemática na área, mesmo porque envolve uma empresa global e terá desdobramentos importantes (os veículos e repórteres americanos certamente exigirão indenização significativa da empresa), como a já anunciada saída da sua principal executiva, Patrícia Dunn.
Esperamos que a repercussão do caso contribua para inibir posturas semelhantes de outras organizações. Não é possível tolerar situações como essa e é fundamental que a sociedade fique atenta a investidas, lobbies ilegítimos, de empresas não éticas no mercado (ao que parece – vale a pena confirmar agora, a HP também foi citada nas CPIs recentes no Brasil).
Uma empresa deve causar, pela sua conduta nos negócios e na sociedade, uma boa impressão. A HP não anda fazendo a lição direito. Por isso, sua imagem está borrada. E essa sujeirinha não vai ser fácil de apagar.
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*Prof. Dr. Wilson da Costa Bueno,
jornalista, professor do programa de pós-graduação
em Comunicação Social da UMESP e professor
de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto Comunicação
e Pesquisa.