Wilson da Costa Bueno*
Não é
incomum encontrar na literatura brasileira autores (geralmente
profissionais com experiência no mercado) que defendem,
com veemência, uma separação bastante
nítida entre as vertentes institucional e mercadológica,
como se fosse possível a uma organização
distinguir a sua imagem ( de empresa moderna, de excelência
no mercado ou comprometida com a sociedade) da qualidade
e do prestígio de seus produtos ou marcas. O inverso
também é verdade: uma empresa não pode
desvincular os produtos que fabrica de sua ação
social. Por isso, se ela explora o trabalho infantil, não
respeita o consumidor ou ignora as demandas de seus funcionários,
seus produtos nunca poderão ser bons.
Modernamente, admite-se
que a imagem de uma organização está
definitivamente colada a tudo que, direta ou indiretamente,
a circunscreve e aí vale considerar tanto os seus
produtos, como os seus fornecedores, os benefícios
que estende aos seus funcionários e até mesmo
a maneira como atende seus clientes ao telefone. A imagem
não consegue mais ser vista de maneira fragmentada:
isso quer dizer que não é possível
ser, ao mesmo tempo, um fabricante de produtos de qualidade
e uma organização socialmente irresponsável
(poluir o meio ambiente, por exemplo), porque o julgamento
da opinião pública é íntegro.
Além disso,
num mundo globalizado, em que as empresas devam estar focadas
no cliente, não é possível imaginar
ações que sejam puramente institucionais ou
mercadológicas. Tudo se soma para construir a imagem.
Logo, a separação entre as vertentes institucional
e mercadológica só pode ser aceita como uma
simplificação para fins meramente didáticos
e há que se tomar cuidado para não assumí-la.
Aceito este fato indiscutível
(que o institucional e o mercadológico não
definem limites nítidos, mas se sobrepõem),
a consequência é inevitável: a comunicação
de uma empresa deve balizar-se por esta interação
permanente, buscando integrar seus produtos (ou marcas)
e a sua filosofia (ação ou responsabilidade
social), de modo que eles caminhem em sintonia. Toda ação
mercadológica positiva reforça a imagem da
organização, assim como uma ação
social efetiva qualifica os seus produtos. Uma empresa que
prioriza uma destas vertentes em detrimento da outra terá,
necessariamente, uma mancha em sua imagem. E isso, convenhamos,
não é nada bom para o presente e o futuro
de seus negócios.
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* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor
do programa de Pós-Graduação em Comunicação
Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto
Comunicação e Pesquisa.
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