Wilson da Costa Bueno*
A emergência de um novo cenário
Aqueles que cunharam,
há algum tempo, a expressão Sociedade da Informação,
talvez não tenham podido perceber que uma mudança
importante, uma verdadeira revolução, estava
sendo plasmada no seio desta Sociedade. Um verdadeiro salto
qualitativo, que culminaria, antes mesmo da virada do milênio,
na emergência da chamada Era do Conhecimento. Evidentemente,
a informação permanece, neste novo cenário,
como a matéria-prima fundamental, mas o foco se desloca:
ao invés da valorização da capacidade
de armazenar dados e de sua célere transmissão,
a vantagem competitiva está centrada, agora, no desenvolvimento
da inteligência para sistematizar informações,
agregando-lhes um valor estratégico. Ou seja, nações
ou empresas cultivam o conhecimento.
Na verdade, este novo
cenário convive ainda com o tradicional, em que se
privilegia a quantidade de informações em
detrimento da sua qualidade, mas a transição
para este novo patamar está se processando em ritmo
acelerado, mesmo no Brasil.
Os reflexos desta nova
ordem no universo da Comunicação Empresarial
são imediatos. As empresas já se aperceberam
de que o quadro se alterou e que, portanto, são necessárias
mudanças urgentes e drásticas na maneira de
se relacionar com o mercado, com os públicos de interesse
e com a própria opinião pública.
Particularmente, os
executivos da área estão convictos de que
os limites entre as chamadas comunicação institucional
ou corporativa e a comunicação dita mercadológica,
antes consideradas como conceitualmente distintas, são
cada vez mais tênues e difusos. Ou seja, a marca passa
a definir-se efetivamente com uma comodity e há uma
relação indissolúvel entre a imagem
(ou reputação) da empresa e a sua posição
no mercado.
Em outros termos, não
há espaço para a Comunicação
Empresarial que não esteja focada no negócio.
Ao mesmo tempo, não é possível imaginar-se
uma organização que não esteja profundamente
comprometida com o seu cliente e com a sociedade em que
se insere.
Tal realidade vai requerer
ações e estratégias modernas com o
objetivo de posicionar a empresa no mercado. Algumas delas
podem ser citadas, de imediato.
A maior participação
dos empresários e das entidades patronais na definição
dos rumos da economia e da política nacionais, favorecida
pela abertura do mercado, faz com que a Comunicação
Empresarial passe,obrigatoriamente, a incorporar uma componente
política, no seu sentido mais amplo, de tal modo
que os produtos e atividades de comunicação
não se postulam mais como isentos. A Comunicação
Empresarial se vê comprometida com esse debate amplo
que se trava na sociedade e com a exigência de uma
atuação mais direta para a solução
dos grandes problemas nacionais (o deficit social, a volatilidade
dos mercados, a obsolescência tecnológica etc)
. Como resultado, a empresa ( e os empresários) se
vêem obrigados a uma exposição maior
na mídia e a se organizarem para defender os seus
interesses, sejam eles de todo um segmento (como, por exemplo,
a indústria calçadista face aos entraves interpostos
pelos empresários argentinos no Mercosul) ou relativos
à sua empresa em particular (uma empresa de telecomunicações
preterida em uma concorrência pública). As
questões inerentes à formação
destes grupos de pressão (lobbies) e à ética
que deve prevalecer nestes casos afloram com facilidade.
Um novo relacionamento
com os seus públicos (colaboradores, acionistas,
imprensa, fornecedores, clientes etc), agora definido pelo
conceito amplo de parceria, passa, também, a ser
exigido das empresas. Trata-se, em suma, da tomada de consciência
de que é impossível, num mundo globalizado
e em constante mudança, caminhar prá frente,
valendo-se unicamente das próprias pernas. Daí,
surgem, como decorrência a figura do cliente interno,
uma forma mais democrática e inteligente de se enxergar
o funcionário, e a do fornecedor-parceiro, que deve
estar comprometido com os produtos e resultados da empresa.
A sinergia, a transparência
e a pró-atividade instituem-se como atributos básicos
de uma política de Comunicação Empresarial
e passam a regular as ações desenvolvidas
junto ao mercado. A fragmentação das atividades
de comunicação (relações públicas,
assessoria de imprensa, identidade visual, edição
de publicações etc) é, de pronto, substituída
por uma nova perspectiva, fundada no planejamento e na integração.
Como corolário natural, perde sentido a distinção
clássica entre comunicação interna
e externa, alimentada por um preconceito contra o colaborador,
antes reconhecido como um mero apêndice da linha de
produção. Pelo contrário, a empresa
descobre, finalmente, a existência de vários
públicos internos, com demandas e expectativas diferenciadas,
todos eles igualmente relevantes. Neste contexto, o conceito
de cultura empresarial ganha força, notadamente com
o acirramento do contato (muitas vezes transformado em confronto)
entre organizações que se associam, se fundem
ou são privatizadas, fato comum no Brasil dos nossos
dias.
A vigilância do
consumidor, a postura agressiva dos meios de comunicação
(que também se fortalecem como organizações
da chamada indústria cultural), que abrem espaço
para a defesa dos direitos dos cidadãos, e a valorização
da ética como pressuposto básico vão,
ainda, requerer das empresas uma atuação transparente,
com inevitáveis penalidades para aquelas que ousam
escamotear as suas crises, sobretudo quando elas afetam
a sociedade como um todo. Exemplos recentes, como a da Schering
do Brasil, no triste episódio da pílula da
farinha, ou da Coca-Cola, com denúncias comprovadas
de contaminação na Bélgica, reforçam
a tese de que é preciso, em momentos de crise, abrir
o jogo, com agilidade e transparência, sob pena de
aprofundar os prejuízos e de comprometer definitivamente
a imagem. Mais uma vez, a Comunicação Empresarial
é posta na berlinda, não sendo raro associar-se
a crise a uma incompetência no relacionamento com
o mercado e a opinião pública.
Antecipar-se aos fatos
deve ser, portanto, uma ação corrente nas
empresas modernas, pois é sabido que os que enxergam
mais rapidamente as oportunidades têm condições
de ocupar nichos de mercado e usufruir dos benefícios
deste pioneirismo. Os seguidores, na maioria das vezes,
são obrigados a investir recursos muito maiores para
ocupar o mesmo lugar já frequentado pelos líderes
do mercado. Este é, quase sempre, o ônus de
quem demora para antever o futuro e, portanto, é
mais lento para deslocar-se em direção às
novas oportunidades.
A velocidade com que
uma empresa reage à dinâmica do mercado está
intrinsecamente relacionada com a aceleração
provocada, na produção, e na comunicação
em particular, pelas novas tecnologias. A internetização
das relações estabelece um outro "timing"
para os negócios e relacionamentos, que têm,
agora, como meta a excelência do "on line".
Responder com atraso significa abrir brecha para o concorrente,
porque o cliente também incorporou esta aceleração
e vê à sua frente um conjunto maior de alternativas
para as suas demandas. Um sistema de telemarketing inoperante,
um site não interativo, um atendimento não
qualificado, com certeza, empurrará o cliente para
o concorrente ao lado, mais ágil, mais sintonizado
com o cidadão da era digital.
Todas as atividades
implícitas em uma política de Comunicação
Empresarial reorganizam-se em função deste
cenário emergente.Tomemos alguns exemplos para ilustrar
estas mudanças.
O conhecimento mais
detalhado do mercado redunda num processo irreversível
de segmentação, com a criação
de canais ou veículos específicos para atender
a demandas localizadas. Pode-se citar o exemplo da Editora
Abril que, em pouco tempo, desdobrou a sua revista tradicional
Exame em vários filhotes (Exame Vip, InfoExame, Você
SA e Revista da Web!), alguns deles já maiores do
que o veículo que lhes deu origem. A mesma estratégia
tem sido utilizada pelas empresas que desdobram sua revista
institucional em inúmeras publicações,
com perfis e públicos distintos, cientes de que há
conteúdos e linguagens que não podem conciliar-se
em um único produto.
Esta segmentação
se aplica também ao trabalho de relacionamento com
os meios de comunicação, agora vistos não
como um segmento uniforme, mas composto de unidades personalizadas
e que requerem abordagens singulares e especializadas. Mais
ainda: uma postura adequada vai exigir que o assessor de
imprensa identifique oportunidades distintas num mesmo veículo,
em função do processo violento de cadernização
e a emergência de inúmeros colunistas, importantes
formadores de opinião. As consequências deste
processo de segmentação, sob a ótica
da assessoria de imprensa das empresas, são óbvias.
De vez, fica banido o release padrão, aquele comunicado
uniforme que se endereçava ao mailing de imprensa,
sem considerar as diferenças evidentes entre um veículo
de informação geral, um veículo especializado
ou entre um caderno de economia e um caderno de cidades.
O relacionamento com a mídia, se realizado profissional
e competentemente, vai requerer que o assessor de imprensa
vislumbre os colunistas de forma distinta (há diferenças
fundamentais entre um Joelmir Betting e um Nassif no que
diz respeito ao discurso e ao conjunto de interesses), assim
como os editores e os chefes de reportagem. As abordagens
deverão ser diferenciadas, partindo do conhecimento
que o assessor de imprensa deve obrigatoriamente acumular
da linha editorial de cada veículo, dos compromissos
e pautas de cada colunista, sob pena de ver seus releases
ou seus contatos definitivamente descartados.
A apropriação
das novas tecnologias faz surgir espaços de comunicação
privilegiados, como intranets, jornais on line, versões
modernas do clipping eletrônico, todos eles acessados
, rápida e cômodamente, pelos executivos das
empresas, gerando uma oferta generosa de informações,
cujo objetivo é estimular o contato e favorecer o
acompanhamento dos ambientes interno e externo.
Com certeza, a mudança
mais relevante, e que permeia todas estas, seja a de buscar
parâmetros para a mensuração da eficácia
das estratégias de comunicação, agora
vinculadas estrategicamente ao "core business"
das empresas.
Neste sentido, ganha
espaço a auditoria de imagem na mídia, instrumento
eficaz, se apoiado em metodologia adequada, porque permite
identificar oportunidades de divulgação, bem
como avaliar a presença qualificada da empresa nos
veículos que estão contribuindo para moldar
a imagem pública da empresa.
Os equívocos das "auditorias" tradicionais
A auditoria de imagem
na mídia tem, infelizmente, um passado e um presente
nada abonadores. Ela surgiu praticamente no mesmo momento
em que se implantavam as assessorias de imprensa nas empresas
modernas, como forma de avaliar a eficácia deste
trabalho de relacionamento com a mídia, mas limita-se,
mesmo hoje, ao que chamamos tradicionalmente de "clipping
com custo". (1) Na prática, os "auditores"
(preferimos chamá-los de meros "contabilistas"
da informação) promovem a equivalência
entre o espaço editorial (espaço da matéria
que inclui uma empresa em um determinado veículo,
medido em cm x col ou cm2) e o custo de inserção,
medido pela tabela de anúncios daquele veículo.
O procedimento encerra
equívocos importantes e, dada a sua incidência
nos dias de hoje, vale a pena comentá-los, ainda
que rapidamente em função do formato deste
artigo.
Não é
razoável comparar espaço editorial com espaço
publicitário, tendo em vista o fato de que são
instâncias completamente distintas no processo de
produção jornalística. O espaço
editorial (reportagens, notas, colunas, artigos etc) representa
um investimento direto da redação, ao passo
que o espaço publicitário tem a ver com o
anunciante. Pelo menos, para os grandes veículos,
independentes editorialmente, estes espaços não
estão correlacionados, de tal forma que uma empresa
pode merecer uma cobertura ampla de jornais e revistas (para
só mencionar a mídia impressa) e não
se constituir num grande anunciante. Exemplos: a IBM e a
TAM não figuram entre os principais anunciantes brasileiros,
mas têm, ambas, uma cobertura considerável
e majoritariamente positiva. Algumas lojas de varejo e a
Unilever, esta, por anos seguidos a maior anunciante do
País, têm uma cobertura apenas discreta da
mídia. Além disso, do ponto de vista da confiabilidade
e da reputação, estar presente, de forma positiva,
na área editorial (ser matéria de capa de
uma revista de negócios, como a Exame ou da Veja,
a maior revista brasileira) vale mais do que o espaço
equivalente em publicidade nos mesmos veículos. O
leitor, particularmente o formador de opinião, sabe
distinguir estas duas instâncias, mesmo porque, muitas
vezes, para estar presente numa página dupla de uma
publicação de circulação nacional,
basta ter condições de bancar a veiculação.
Figurar positivamente na capa de uma revista, ter destaque
num telejornal ou merecer comentários elogiosos de
um colunista prestigiado exige das empresas, certamente,
mais do que uma polpuda conta bancária. Logo, o assessor
de imprensa que promove esta equivalência e a utiliza
para justificar a competência do seu trabalho, está,
na verdade, fazendo uma conta que não se reverte
em seu favor.
Além disso, as
tabelas de anúncios dos jornais são meras
referências, já que variam em função
do anunciante, do número de inserções
por uma mesma empresa e de uma série infindável
de acordos que são realizados à revelia da
tabela do balcão. Como as auditorias (e as empresas
de clipping) não têm controle sobre estes acertos
(na maioria dos casos, não têm mesmo as tabelas
oficiais de anúncios, que não estão
explícitas para um número infindável
de veículos brasileiros), os dados desta equivalência
são, no mínimo, pouco confiáveis, para
não dizer "adivinhações".
Devemos admitir que, muitas vezes, esta equivalência
(espaço publicitário x espaço editorial)
é exigência do cliente (assessor de imprensa
ou gerente de comunicação ou marketing) que
pretende, de posse destes dados, convencer o seu superior
(presidente, diretor etc) de que é vantajosa a relação
custo x benefício do seu trabalho.
Outro procedimento equivocado
que caracteriza a "auditoria" (ou melhor, a "contabilidade"
tradicional ) consiste em considerar, sem maior espírito
crítico, como resultado do trabalho divulgação,
todas as matérias (os "recortes", produto
resultado do processo de "clipagem") em que a
empresa (ou entidade ou mesmo uma pessoa) é mencionada.
Obviamente, este fato demonstra mais uma vez desconhecimento
das formas de inserção de uma empresa no noticiário.
Simplificadamente, podemos admitir que uma empresa (entidade
ou pessoa) comparece na mídia de 4 formas: a) ela
é simplesmente citada; b) a matéria a inclui,
mas de forma apenas secundária; c) ela tem importância
na matéria, mas compartilha este espaço com
outras empresas, em geral seus concorrentes e d) é
objeto principal (muitas vezes exclusivo) da matéria.
Evidentemente, cada uma destas modalidades de inserção
tem o seu peso, crescente de a) para d), ou seja, ser o
objeto principal (melhor ainda, exclusivo) de uma matéria
agrega mais peso editorial do que figurar apenas como uma
mera citação. Todo assessor de imprensa (e
mais ainda os seus clientes) gostaria que seu cliente (empresa,
entidade ou pessoa) aparecesse na mídia em uma máteria
(com certeza, positiva) com destaque e se sentiria recompensado
se isso ocorresse de forma exclusiva, quer dizer sem dividir
o espaço com um de seus concorrentes. Logo, não
se pode "contabilizar" estas matérias (ou
recortes) como se elas, sob o ponto de vista de presença
da empresa (cliente ou pessoa) na mídia, fossem idênticas,
porque, certamente, eles representam instantes de divulgação
diferenciados. Atribuir o mesmo peso significa falsear os
dados, o que muitas vezes se faz por comodismo ou má
fé.
A "contabilidade"
tradicional, que ousa travestir-se de auditoria, comete
também mais desvios. Sem maior consideração
crítica, admite igualdade entre os diferentes veículos,
colocando lado a lado um pequeno jornal do interior e um
grande veículo nacional. Na somatória, considera
o total de matérias, sem ponderá-las em função
do meio em que foram veiculadas. Muitas vezes, procede desta
forma para superestimar o desempenho da assessoria, ciente
de que é mais difícil posicionar a empresa
(entidade ou pessoa) num veículo de grande penetração.
Mesmo quando se dispõe a encarar esta diferença,
o faz de maneira pouco lógica. Ainda que se possa
atribuir, em função, por exemplo da tiragem,
pesos diferenciados para cada veículo, o processo
é inadequado. Exemplos:1) a Gazeta Mercantil pode
não ter uma tiragem expressiva, se comparada a outros
veículos brasileiros, mas representa um espaço
privilegiado de divulgação (pesquisas indicam
este conceituado veículo como o de maior prestígio
entre a comunidade econômico-financeira do país),
sobretudo para determinadas empresas (aquelas que atuam
primordialmente no chamado " business to business")
e para determinados temas. Valer-se apenas da tiragem pode,
neste caso, reduzir o peso da Gazeta Mercantil, comprometendo
um processo legítimo de auditoria; 2) um jornal de
uma pequena localidade do interior paulista, ainda que com
uma tiragem inexpressiva, pode, para uma determinada empresa,
ser um canal de veiculação relevante, seja
porque a sede da empresa está justamente ali. Logo,
não seria lógico, para aquela empresa específica,
atribuir o mesmo peso àquele veículo e a outro,
que exibe uma circulação maior.
Em resumo, não
há um critério único que possa ser
aplicado a todas as empresas e a ponderação
dos veículos deve levar em conta a especificidade
da empresa e a sua área de atuação.
A uma revista especializada (as focadas no universo feminino
para as empresas do segmento de cosméticos; as rurais
para as empresas do mundo do agribusiness ou ainda as de
informática para as empresas produtoras de hardware
ou software), independente da sua tiragem, devem ser atribuídos
pesos distintos, conforme a área de atuação
da empresa. A revista Cláudia terá mais valor
para a Avon do que para a Villares; a Globo Rural será
mais importante para a Sadia do que para a Procter &
Gamble; assim como a Info Exame poderá ser estratégica
para a Microsoft ou para a Itautec e merecer menor atenção
(portanto, ter menor valor como canal de divulgação)
da General Motors (que não descuidará, por
seu turno, de uma presença expressiva na Quatro Rodas
ou nos suplementos de carros dos jornais). Agrega-se ainda
à consideração da tiragem como critério
decisivo o fato de que um número significativo de
veículos não é auditado, o que torna
muito difícil legitimar as tiragens, particularmente
aquelas confessadas pelos editores ou proprietários
de veículos, quase sempre pouco confiáveis.
A "contabilidade"
tradicional não pondera, ainda, de maneira adequada,
a presença de uma empresa (entidade ou pessoa) em
espaços privilegiados dos veículos. Comparecer
na capa dos jornais, ou mesmo na capa dos cadernos em que
se segmentam os jornais, é absolutamente relevante
num trabalho de auditoria, porque a visibilidade destas
matérias (artigos etc), nestes casos, é sensivelmente
maior do que a mera inserção numa página
interna. Figurar nas matérias com fotos ou ilustrações
também confere maior peso à divulgação,
o que, necessariamente, precisa ser considerado. Um exemplo
corriqueiro: se uma matéria sobre a pujança
do setor de agribusiness brasileiro ( o seu potencial exportador)
inclui empresas como a Perdigão, a Ceval e a Sadia,
mesmo que o espaço a elas atribuído seja equivalente,
terá maior destaque aquela que for contemplada com
uma foto, pois este é um elemento que agrega visibilidade
na mídia impressa. Da mesma forma, a existência,
na matéria, de uma fonte de uma destas empresas garantirá
a esta empresa uma presença mais qualificada. Uma
auditoria legítima levará em consideração
todos estes parâmetros e saberá diferenciar
estes níveis distintos de presença, ponderando-os
adequadamente.
Outro espaço
privilegiado dos veículos são as colunas,
tidas, justificadamente, como espaços nobres de divulgação.
Não ponderar este espaço significa ignorar
uma realidade do relacionamento entre um veículo
e seus leitores, telespectadores e radiouvintes. Medir o
espaço de uma nota em uma destas colunas e compará-lo
com espaços equivalentes em outras páginas
do mesmo jornal (ou de outros jornais) é um equívoco
, ou, ainda, tentar convertê-lo em espaço publicitário
é uma aberração, infelizmente praticada
por alguns dos nossos "contabilistas" da informação.
Seria fácil evidenciar que algumas poucas linhas,
um simples comentário desairoso, numa coluna de prestígio
da nossa grande imprensa ( Joelmir Betting, Nassif, Miriam
Leitão, Celso Pinto ), poderia redundar num prejuízo
inestimável para uma determinada empresa (entidade
ou pessoa) em termos de imagem ou de resultados (uma informação
sobre os resultados negativos do futuro balanço de
uma empresa poderá, como tem ocorrido, imediatamente,
redundar na desvalorização das suas ações
na Bolsa de Valores). Logo, tais espaços devem ser
tratados à parte num trabalho sério de auditoria
de imagem na mídia, exatamente porque não
se confundem com um espaço normal oferecido à
redação, mas privativo de verdadeiros multiplicadores
de opinião.
Muitas vezes, a observância
destes parâmetros se torna impossível porque
a coleta dos dados (o "clipping") é realizada
por terceiros e a unidade de informação (o
recorte) não traz a identificação correta
da sua procedência. A maioria das empresas de clipping
esmera-se mais em quantificar o recorte (convertê-lo
em custo de publicidade, com todos os equívocos conceituais
e operacionais que este procedimento encerra e já
abordados neste artigo) do que em identificá-lo como
espaço informativo, comprometendo a análise
posterior.
A auditoria como inteligência empresarial
A auditoria de presença
na mídia como inteligência empresarial deve
atentar para todos estes aspectos e servir de instrumento
básico da empresa (entidade ou pessoa) para uma política
consistente e sistemática de divulgação.
Não pode ignorar a singularidade dos veículos
e de seus espaços privilegiados, o perfil comunicacional
dos concorrentes (ou adversários, no caso de pessoas
físicas - politicos, em particular) e, sobretudo,
deve pautar a conduta da empresa (entidade ou pessoa) no
relacionamento com os meios de comunicação.
Algumas situações,
absolutamente surrealistas, têm caracterizado o trabalho
de avaliação das empresas brasileiras no tocante
à sua presença (e de seus concorrentes na
mídia). A maioria delas não têm sequer
um razoável trabalho de clipagem da sua presença
(mais ainda de seus concorrentes ) na mídia. Isso
significa que não monitora as ações
dos seus concorrentes, das entidades que a representam,
as falas dos seus executivos e, sobretudo, não pode
traçar estratégias adequadas para eliminar
ruídos em sua comunicação com o mercado.
O clipping, embora matéria prima importante, não
agrega valor à análise da presença
na mídia, a não ser que incorpore critérios
de análise. Para retomar alguns conceitos enunciados
no início deste artigo, o clipping é mera
informação, não conhecimento. A auditoria
de imagem incorpora conhecimento, sistematizando dados e
sinalizando para oportunidades de divulgação.
Ela subsidia estratégias que permitem alavancar negócios,
em função de um trabalho de consolidação
da imagem da empresa (entidade ou pessoa) na mídia.
A menos que a empresa (entidade ou pessoa) desconsidere
a importância dos meios de comunicação
para a formação da sua reputação,
o relacionamento com a mídia e o monitoramento de
seu desempenho em divulgação devem ser prioritários
numa política moderna e avançada de Comunicação
Empresarial.
A auditoria como inteligência
empresarial permite detectar os temas prioritários
da divulgação de uma empresa e de seus concorrentes,
avaliar ações específicas de seus concorrentes
no mercado e na mídia em particular, descobrir preferências
de colunistas e veículos e a boa vontade com respeito
à empresa e seus concorrentes. Se bem realizada,
garante análises detalhadas de inserção
dos produtos e da filosofia gerencial da empresa, comparando-as
com de seus concorrentes.
Uma auditoria de imagem
na mídia que se define como instrumento de inteligência
empresarial não deve resumir-se unicamente à
empresa. Isto significa que, embora relevante, a análise
isolada da presença da empresa na mídia, tem
valor comparativo e estratégico menor. Sem a avaliação
precisa do perfil do relacionamento dos principais concorrentes
com a mídia (quando eles falam, como falam, com quem
falam, onde falam, sobre que temas etc), a empresa não
pode orientar-se adequadamente com respeito às suas
estratégias de divulgação. Na verdade,
não tem mesmo condições de garantir
que o seu esforço de divulgação é
positivo, porque a análise individualizada não
traz elementos para comparação. Como uma empresa
poderá comemorar os 1.200 cm x col de espaço
com que foi contemplada nos jornais ou revistas , se não
dispõe dos mesmos dados referentes aos seus concorrentes?
Em alguns casos, este espaço poderá ser relevante
e significar a sua liderança na chamada "batalha
na mídia", mas, em outros, poderá indicar
que foi superada por seus adversários. Como a empresa
poderá saber se o espaço por ela ocupado nos
meios de comunicação é qualitativamente
superior aos de seus concorrentes, se, comparativamente,
não monitora a presença de seus concorrentes
nos veículos mais influentes na sua área de
atuação ou nos espaços privilegiados
dos jornais (capas do veículo ou dos cadernos internos
ou nas colunas)? Como avaliar a presença de suas
fontes na mídia, se, por ausência de dados,
não pode aquilitar a visibilidade dos executivos
da concorrência? Como saber sobre que temas se concentra
o discurso da concorrência, se não acompanha
a sua divulgação, decupando-a em temas ou
idéias-força?
A auditoria de mídia
como inteligência empresarial é um trabalho
de parceria, realizado pela empresa (entidade ou pessoa)
e uma assessoria independente. Aliás, é fundamental
que este trabalho não seja promovido internamente,
porque a independência do auditor confere confiabilidade
à análise e impede interferências que
possam comprometer os dados e sua intepretação.
Deve ser continuamente aperfeiçoada, incluindo aspectos
que possam balizar a atuação da empresa em
função de estratégias comerciais e
de divulgação que estejam sendo implementadas.
Não pode, sob pena de perder sua eficácia,
transformar-se num relatório frio, padronizado, mas
constituir-se efetivamente, num documento estratégico,
a ser considerado permanentemente para o traçado
de políticas de Comunicação Empresarial.
A maioria das nossas
empresas ainda não se deu conta da relevância
deste trabalho e continua agindo às escuras, sem
sinalizações adequadas para o seu trabalho
de monitoramento da ação da concorrência
na mídia. É fácil perceber que, se
a presença positiva de uma empresa na mídia
é vital para a sua imagem (ou reputação)
e que ela não está sozinha no mercado (hoje,
mais do que nunca, ela tem concorrentes), a realização
de um trabalho permanente de auditoria de imagem, que leve
em conta a empresa e seus concorrentes, se define como estratégica.
Quem já está lançando mão deste
instrumento, com certeza dispõe de uma vantagem competitiva
e está atento para a guerra que se trava ( e que,
de agora em adiante, será mais acirrada) no mercado.
A auditoria de mídia
não tem qualquer importância para as empresas
que não valorizam os meios de comunicação
e julgam dispensável um relacionamento sistemático,
profissional e transparente com os seus públicos
de interesse e a opinião pública. Elas, por
certo, não saberão valer-se dela como instrumento
estratégico e tendem, infelizmente, por desconhecimento
ou omissão, a perder espaço no mercado. A
inteligência empresarial na Sociedade do Conhecimento
será atributo apenas das empresas que pretendem manter-se
vivas e competitivas no próximo milênio.
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* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor
do programa de Pós-Graduação em Comunicação
Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto
Comunicação e Pesquisa.