Wilson da Costa Bueno*
Pesquisa realizada
pela Comtexto, e apresentada no último Congresso
Brasileiro de Comunicação Empresarial (Fale
conosco, jornalista), realizado em maio de 2002, mostrou
que as Salas de Imprensa (pelo menos as de 50 grandes empresas
listadas nas Maiores e Melhores da revista Exame) não
estão cumprindo o seu papel de interação
com os profissionais de imprensa. Em primeiro lugar, não
apresentam as informações requeridas pelos
jornalistas para o seu trabalho, limitando-se, em sua maioria,
a repetir material institucional genérico ou a reproduzir
releases. Em segundo lugar, são pouco ágeis,
respondendo com lentidão à demanda, o que,
na maioria dos casos, inviabiliza a produção
das matérias no tempo exigido (que, para a imprensa,
é sempre muito reduzido). Finalmente, restringem-se
a informações da própria empresa, não
oferecendo links para sites relevantes de sua área
de atuação ou dados sobre o mercado, ou seja,
não se dispõem a ser um espaço para
uma autêntica e ampla interação.
Não é
difícil avaliar as razões pelas quais isso
ocorre. Apontaremos aqui apenas algumas delas, com a pretensão
de que sejam as mais importantes. Tais problemas, se contornados,
poderão, a nosso juízo, contribuir para que
o atual cenário se modifique completamente.
As empresas ainda não
se dispuseram a definir, com profissionalismo e competência,
a Sala de Imprensa, não canalizando recursos para
implementá-la. Julgam importante abrir esta "janela"
em seu site institucional ("toda empresa de boa família
tem a sua Sala de Imprensa"), mas não estão
dispostas a investir para organizar conteúdos e para
responder rapidamente às demandas da mídia.
Para isso, convenhamos, teriam que manter uma equipe capacitada
(e totalmente dedicada) para essa interação,
o que dificilmente ocorre. Em muitos casos (as próprias
empresas ou suas assessorias confessam isso), a Sala de
Imprensa é mantida e atualizada (?) por outros setores,
necessariamente pouco acostumados ao ritmo e ao processo
peculiar da produção jornalística.
Assim, não pode funcionar mesmo.
Muitas organizações
não respeitam a chamada cultura jornalística
moderna e acreditam que jornalista gosta mesmo de release,
o que é apenas parcialmente verdade . Ninguém
duvida que o release, quando não concebido para ser
a própria matéria, mas como uma pré-pauta,
pode funcionar e bem. Mas arquivo de releases tem uma função
limitada e é preciso frisar que, quem cobre regularmente
uma empresa ou entidade, já tomou conhecimento dos
releases emitidos por ela anteriormente. Logo, não
precisa ser apresentado a eles todas as vezes em que adentra
o site.
Jornalista gosta (e
precisa) de informação nova e relevante. Substantiva,
não adjetiva, como pode ser fartamente encontrada
em alguns sites ("somos uma empresa verde ou cidadã"
não é algo que se diga, mas que se pratique
ou se prove - com dados, muitos dados). Isso quer dizer
que jornalista não está interessado apenas
naquela informação específica da empresa,
mas em um conjunto de informações sobre o
mercado, a sua área de atuação e sobre
o estado da arte em pesquisa & desenvolvimento naquele
setor (para só citar alguns interesses possíveis).
Por que não oferecer isso a ele? Não vale
a pena estabelecer esta parceria? Ou jornalista é
só o "adversário" que se convoca,
egoisticamente, quando há algo de interesse da organização
a ser veiculado? E a tal da mão dupla? É conversa
mole que se aprende nas Escolas de Comunicação?
Os profissionais de
imprensa, sobretudo na Sociedade da Informação,
da informação on line, precisam também
de outros materiais, como fotografias, por exemplo, em extensões
e resoluções adequadas à publicação
em mídia impressa ou eletrônica. Embora algumas
organizações tenham bancos de fotos, eles
são pobres e inadequados (alguns chegam a restringir
o uso das imagens ou a requerer cadastros para sua utilização).
Quais fotos? As organizações sabem as demandas
dos jornalistas neste sentido e só precisam preparar-se
para atendê-las. As fotos dos principais produtos,
das instalações, dos executivos de primeira
linha etc devem ter, obviamente, presença obrigatória
na Sala de Imprensa. Mas quase nunca estão lá.
Alguém pode explicar esta lacuna?
É razoável
criar um cadastro na Sala de Imprensa para identificar os
profissionais que utilizam as informações
ou as fotos porque, desta forma, pode-se estabelecer uma
interação maior e buscar antecipar-se a futuras
demandas. Mas esse cadastro não deveria ser obrigatório
a ponto de constranger o jornalista (alguns sites chegam
a incluir questionário sobre os produtos da empresa
no momento do cadastro!) e sinalizar para serviços
adicionais que poderiam ser oferecidos aos cadastrados (newsletter,
informações sobre atualização
do site etc). Há cadastros tão pouco inteligentes
que qualquer um se cadastra ali de tal modo que o banco
de dados resultante se constitui num verdadeiro frankstein.
Não serve para coisa alguma. Há cadastros
que, por deficiência na formatação do
formulário de cadastramento, impedem que jornalistas
de determinados veículos se cadastrem , a menos que
mintam sobre o local de trabalho. Será que ninguém
percebeu isso?
Enfim, as Salas de Imprensa
na Web podem funcionar, se, efetivamente, as organizações
derem a elas a mesma atenção que costumam
emprestar a outras formas de atendimento. Afinal de contas,
as assessorias de imprensa, sejam elas internas ou terceirizadas,
são, hoje, em grande parte, altamente profissionalizas,
competentes e de alto nível. Por que não melhorar
o status também das assessorias pela Internet?
Ainda que as empresas
demorem para modificar, por sua própria iniciativa,
este triste quadro, os jornalistas de redação
provocarão esta mudança, pelo fato de que,
de forma cada vez mais intensa, lançam mão
da Internet para obter informações e subsídios
para as suas matérias. E ninguém quer ser
esquecido pelos jornalistas.
A empresa ou entidade,
que der o primeiro passo, organizando, de maneira sitemática
e competente, a sua Sala de Imprensa, será recompensada.
Os jornalistas costumam ser gratos a quem lhes fornece o
seu principal elemento: informação atual e
de qualidade.
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* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor
do programa de Pós-Graduação em Comunicação
Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto
Comunicação e Pesquisa.