Wilson da Costa Bueno*
O trabalho realizado pelas assessorias
de imprensa no Brasil tem sido cada vez mais valorizado
pelos colegas da redação, mas alguns equívocos
importantes ainda permanecem. Muitas vezes, eles derivam
do desconhecimento, por parte dos assessores, do próprio
processo de produção jornalística
(perfil do veículo, foco de uma editoria específico,
tempo disponível para leitura do material enviado
etc), mas, em muitos casos, as falhas se localizam no ethos mesmo
do trabalho de relacionamento com a mídia. Essas
foram algumas das conclusões de importante sondagem
realizada pelo Comunique-se e reveladas no Congresso de
Jornalismo Empresarial, promovido em 2003 em São
Paulo.
A pesquisa, intitulada As Assessorias
na Visão dos Jornalistas, envolveu 1094 participantes,
a maioria dos quais atuando como repórteres, editores,
diretores e free-lancers e foi coordenada por Rodrigo Avezedo,
presidente do Comunique-se. A maioria dos respondentes era
da região Sudeste e vinculados à chamada mídia
impressa (jornais e revistas). A pesquisa foi realizada no
período de 27 a 31 de março de 2003, valendo-se
do Termômetro da imprensa nacional, uma ferramenta
da empresa para avaliar a opinião dos jornalistas
sobre temas de interesse. Aos jornalistas, foram encaminhadas
22 perguntas, que constituiram a arquitetura básica
da sondagem.
As conclusões mais importantes
foram agrupadas pelo Comunique-se em 7 tópicos básicos:
1) utilização do e-mail como forma de contato;
2) avaliação dos releases encaminhados pelas
assessorias; 3) o assessor, visto pelos jornalistas; 4) a
presença e eficácia das coletivas; 5) a importância
e adequação da Salas de Imprensa; 6) a participação
dos jornalistas em auditorias de imagem e 7) a legitimidade
dos brindes.
Fica evidente, pela pesquisa, que
o e-mail é, de longe, a forma preferida pelos colegas
de redação para receber as informações
das assessorias, mas é preciso chamar a atenção
para o fato de que o número de e-mails recebidos é muito
grande (cerca de 100 por dia) e que, obrigatoriamente, por
falta de tempo ou de interesse, 50% deles não são
lidos. Os jornalistas indicaram, também, o título
como o elemento mais importante dos e-mails (logo, é fundamental
caprichar nele), mas deram, ainda outras pistas: levam em
conta o nome do cliente , a personalização
e a identificação da assessoria e do assessor
(aqui, entra a credibilidade, adquirida ao longo do relacionamento).
Não há, como alguém
possa imaginar, preconceito contra os releases encaminhados
por e-mail: pelo contrário, a maioria dos jornalistas
não os considera uma forma de spam; admite que são
necessários e confessa que podem, dependendo do conteúdo,
do foco e da oportunidade, serem aproveitados pela redação.
Os assessores não são
visto como parceiros autênticos, já que, em
geral, estão mais comprometidos com os seus clientes
(mais de 85% dos respondentes entendem assim) e, portanto,
de maneira egoísta podem estar mais interessados em
valer-se da mídia do que colaborar com ela.
A falta de agilidade nas respostas
( o tempo é vital para o trabalho da imprensa) e a
baixa qualidade do material encaminhado têm penalizado,
segundo os jornalistas, o trabalho de relacionamento, mas
o desconhecimento do processo de produção jornalística
(lembrar que há diferenças entre as várias
mídias - jornal, revista, internet, rádio,
televisão etc) e mesmo do assunto que se divulga foram
lembrados como aspectos negativos da interação
dos assessores com a imprensa.
Em média, a cada 2 dias (essa
média é maior, se descontarmos os finais de
semana), os jornalistas são convidados para participar
de coletivas, mas atendem a menos de 1/3 dos convites. Isso
significa que , em função do tempo e do interesse,
há um filtro severo que define essa participação
em coletivas.
A Internet tem sido utilizada amplamente
para a obtenção de informações,
mas a crítica reside no fato de que o material disponível
nas Salas de Imprensa tem um caráter nitidamente comercial
e, portanto, pouco útil para a atividade jornalística
regular. A maioria expressiva dos colegas de redação
admite como válida a existência de um serviço
que concentre as informações de várias
empresas.
A participação dos
jornalistas em pesquisas de auditoria de imagem (como a que
foi realizada para essa pesquisa) depende do tempo disponível
e, em geral, deve ser feita a partir de perguntas por e-mail,
já que, com isso, se dá a liberdade ao jornalista
de interagir no momento em que julgar adequado (fora do sufoco
do fechamento, por exemplo).
O recebimento de brindes não é visto
como um problema pelos jornalistas, mesmo que eles tenham
um valor elevado, mas (aí
está o critério básico) devem fazer
parte do contexto em que se inserem. Fora desse foco, o brinde
se transforma em jabá e é repudiado.
O trabalho do Comunique-se representa
uma contribuição importante para a análise
da relação assessorias x imprensa e sinaliza
para mudanças importantes ocorridas neste relacionamento
ao longo do tempo, particularmente após a introdução
acelerada das novas tecnologias no processo de produção
jornalística e de comunicação empresarial,
de maneira geral.
Ele aponta para a necessidade de
utilização adequada e intensa da Internet e
reforça a tese de que o relacionamento com a mídia
pressupõe, necessariamente, uma capacitação
profissional.
Os jornalistas vêem sem preconceito
a atividade de assessoria, mas continuam rejeitando material
sem qualidade, sem foco, o que é
muito comum, tendo em vista o fato de muitas assessorias
encaminharem material às redações, sem
o conhecimento adequado do perfil dos veículos e da
dinâmica de funcionamento das editorias, em particular.
Isso acontece porque muitas assessorias
compram mailings e deles se valem para encaminhar seus releases
ou pré-pautas, sem atentar para a adequação
do conteúdo (notícia que pretendem gerar) ao
veículo ou editoria específicos. Embora possa
parecer estranho, é prática comum no mercado
encaminhar material para veículos desconhecidos pelas
assessorias, o que, convenhamos, torna mesmo difícil
acertar o foco.
A pesquisa chama a atenção
para os critérios a serem utilizados para a convocação
de coletivas (30% apenas conseguem atrair os colegas da redação)
, para o cuidado a ser tomado nos brindes oferecidos aos
jornalistas (jabá
jamais!), para a inadequação das Salas de Imprensa
(em geral, estão distantes das demandas reais dos
jornalistas) e outros aspectos absolutamente relevantes.
O mercado agradece a contribuição
do Comunique-se. Só
nos resta, agora, arregaçar as mangas e mãos à
obra.
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* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor
do programa de Pós-Graduação em Comunicação
Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto
Comunicação e Pesquisa.