Wilson da Costa Bueno*
O trabalho realizado pelas assessorias
de imprensa no Brasil tem sido cada vez mais valorizado
pelos colegas da redação, mas alguns equívocos
importantes ainda permanecem. Muitas vezes, eles derivam
do desconhecimento, por parte dos assessores, do próprio
processo de produção jornalística (perfil
do veículo, foco de uma editoria específico,
tempo disponível para leitura do material enviado
etc), mas, em muitos casos, as falhas se localizam no "ethos"
mesmo do trabalho de relacionamento com a mídia.
Essas são algumas das conclusões de importante
sondagem realizada pelo Comunique-se e reveladas no Congresso
de Jornalismo Empresarial, promovido no início de
abril pela MegaBrasil, em São Paulo.
A pesquisa
A pesquisa, intitulada As Assessorias na Visão dos
Jornalistas, envolveu 1094 participantes, a maioria dos
quais atuando como repórteres, editores, diretores
e free-lancers e foi coordenada por Rodrigo Avezedo, presidente
do Comunique-se. A maioria dos respondentes era da região
Sudeste e vinculados à chamada mídia impressa
(jornais e revistas). A pesquisa foi realizada no período
de 27 a 31 de março de 2003, valendo-se do Termômetro
da imprensa nacional, uma ferramenta da empresa para avaliar
a opinião dos jornalistas sobre temas de interesse.
Aos jornalistas, foram encaminhadas 22 perguntas, que constituiram
a arquitetura básica da sondagem.
Os principais resultados
As conclusões
mais importantes foram agrupadas pelo Comunique-se em 7
tópicos básicos: 1) utilização
do e-mail como forma de contato; 2) avaliação
dos releases encaminhados pelas assessorias; 3) o assessor,
visto pelos jornalistas; 4) a presença e eficácia
das coletivas; 5) a importância e adequação
da Salas de Imprensa; 6) a participação dos
jornalistas em auditorias de imagem e 7) a legitimidade
dos brindes.
Fica evidente, pela
pesquisa, que o e-mail é, de longe, a forma preferida
pelos colegas de redação para receber as informações
das assessorias, mas é preciso chamar a atenção
para o fato de que o número de e-mails recebidos
é muito grande (cerca de 100 por dia) e que, obrigatoriamente,
por falta de tempo ou de interesse, 50% deles não
são lidos. Os jornalistas indicaram, também,
o título como o elemento mais importante dos e-mails
(logo, é fundamental caprichar nele), mas deram,
ainda outras pistas: levam em conta o nome do cliente ,
a personalização e a identificação
da assessoria e do assessor (aqui, entra a credibilidade,
adquirida ao longo do relacionamento).
Não há,
como alguém possa imaginar, preconceito contra os
releases encaminhados por e-mail: pelo contrário,
a maioria dos jornalistas não os considera uma forma
de spam; admite que são necessários e confessa
que podem, dependendo do conteúdo, do foco e da oportunidade,
serem aproveitados pela redação.
Os assessores não
são visto como parceiros autênticos, já
que, em geral, estão mais comprometidos com os seus
clientes (mais de 85% dos respondentes entendem assim) e,
portanto, de maneira egoísta podem estar mais interessados
em valer-se da mídia do que colaborar com ela.
A falta de agilidade
nas respostas ( o tempo é vital para o trabalho da
imprensa) e a baixa qualidade do material encaminhado têm
penalizado, segundo os jornalistas, o trabalho de relacionamento,
mas o desconhecimento do processo de produção
jornalística (lembrar que há diferenças
entre as várias mídias - jornal, revista,
internet, rádio, televisão etc) e mesmo do
assunto que se divulga foram lembrados como aspectos negativos
da interação dos assessores com a imprensa.
Em média, a cada
2 dias (essa média é maior, se descontarmos
os finais de semana), os jornalistas são convidados
para participar de coletivas, mas atendem a menos de 1/3
dos convites. Isso significa que , em função
do tempo e do interesse, há um filtro severo que
define essa participação em coletivas.
A Internet tem sido
utilizada amplamente para a obtenção de informações,
mas a crítica reside no fato de que o material disponível
nas Salas de Imprensa tem um caráter nitidamente
comercial e, portanto, pouco útil para a atividade
jornalística regular. (Ver a respeito pesquisa da
Comtexto sobre Salas de Imprensa, realizada no ano passado
e também artigo sobre o tema) A maioria expressiva
dos colegas de redação admite como válida
a existência de um serviço que concentre as
informações de várias empresas.
A participação
dos jornalistas em pesquisas de auditoria de imagem (como
a que foi realizada para essa pesquisa) depende do tempo
disponível e, em geral, deve ser feita a partir de
perguntas por e-mail, já que, com isso, se dá
a liberdade ao jornalista de interagir no momento em que
julgar adequado (fora do sufoco do fechamento, por exemplo).
O recebimento de brindes
não é visto como um problema pelos jornalistas,
mesmo que eles tenham um valor elevado, mas (aí está
o critério básico) devem fazer parte do contexto
em que se inserem. Fora desse foco, o brinde se transforma
em "jabá" e é repudiado.
Uma pesquisa relevante
O trabalho do Comunique-se representa uma contribuição
importante para a análise da relação
assessorias x imprensa e sinaliza para mudanças importantes
ocorridas neste relacionamento ao longo do tempo, particularmente
após a introdução acelerada das novas
tecnologias no processo de produção jornalística
e de comunicação empresarial, de maneira geral.
Ele aponta para a necessidade de utilização
adequada e intensa da Internet e reforça a tese de
que o relacionamento com a mídia pressupõe,
necessariamente, uma capacitação profissional.
Os jornalistas vêem sem preconceito a atividade de
assessoria, mas continuam rejeitando material sem qualidade,
sem foco, o que é muito comum, tendo em vista o fato
de muitas assessorias encaminharem material às redações,
sem o conhecimento adequado do perfil dos veículos
e da dinâmica de funcionamento das editorias, em particular.
Isso acontece porque muitas assessorias compram mailings
e deles se valem para encaminhar seus releases ou pré-pautas,
sem atentar para a adequação do conteúdo
(notícia que pretendem gerar) ao veículo ou
editoria específicos. Embora possa parecer estranho,
é prática comum no mercado encaminhar material
para veículos desconhecidos pelas assessorias, o
que, convenhamos, torna mesmo difícil acertar o foco.
A pesquisa chama a atenção para os critérios
a serem utilizados para a convocação de coletivas
(30% apenas conseguem atrair os colegas da redação)
, para o cuidado a ser tomado nos brindes oferecidos aos
jornalistas (jabá jamais!), para a inadequação
das Salas de Imprensa (em geral, estão distantes
das demandas reais dos jornalistas) e outros aspectos absolutamente
relevantes.
Os slides da apresentação da pesquisa do Comunique-se
estão disponíveis para os cadastrados no site
(http://www.comunique-se.com.br) e deveriam ser consultados,
obrigatoriamente, por assessores , assessorias e organizações
de maneira geral. Pode ser interessante ler também
a transcrição do material que resultou de
uma coletiva pela Internet realizada pelo Comunique-se para
divulgar os resultados da pesquisa.
O mercado agradece a contribuição do Comunique-se.
Só nos resta, agora, arregaçar as mangas e
mãos à obra.
Recomendação especial: O site Comunique-se,
que reúne a "maior comunidade de jornalistas
do Brasil", deveria integrar o conjunto de favoritos
de todos os profissionais de comunicação do
País. Você não o conhece ainda?
--------------------------------------------------------------------------------
* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor
do programa de Pós-Graduação em Comunicação
Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto
Comunicação e Pesquisa.