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Marketing Político

:: As eleições como moeda no jogo da especulação financeira

Wilson da Costa Bueno*

      Em época de efervescência eleitoral, é até normal esperar que ocorram as tradicionais "baixarias", com acusações mútuas entre candidatos e a descoberta de novos fatos que, indistintamente, evidenciam aos leitores de que "guerra é guerra" e que, no fundo, "todo mundo tem o rabo preso". Para quem prima pela ética e pelo respeito aos cidadãos, esta é uma época de grandes arrepios, mas a nossa cultura política (brasileira e mundial) tem, como principal característica, exalar odores desagradáveis.
      A novidade, este ano, no Brasil é a utilização intensiva das pesquisas eleitorais, encomendadas por empresas do setor financeiro (empresas de investimentos, bancos comerciais etc), como objetivo único de especulação . A idéia é provocar "frisson na galera" e ganhar com a gangorra do dólar e das bolsas. Se a instabilidade já é uma realidade em função da possibilidade da oposição chegar ao poder, basta imaginar como a turbulência aumenta, quando alguém, voluntariamente, "cutuca a onça com a vara curta". É bom explicar: as empresas do setor financeiro, de há muito, patrocinam pesquisas eleitorais, mas, em nenhuma outra época, se aproveitaram tanto delas para abalar o mercado e lucrar com o receio dos investidores.
      As pesquisas eleitorais são de grande importância para medir a temperatura do comportamento do eleitorado e, dado o refinamento metodológico atingido, elas têm acertado o alvo na grande maioria das vezes. Tanto assim que, quando uma previsão, baseada em pesquisas, "bate na trave ou vai direto prá fora", a mídia se alvoroça, mostrando a vulnerabilidade dos institutos, ignorando que a opinião é um atributo de grande volatilidade e que as estatísticas se respaldam na famosa lei de probabilidades. Ou seja: a margem de erro pode ser até pequena, mas jamais nula.
      Logo, o problema não está em realizar e divulgar pesquisas eleitorais (proibi-las, quando se sabe quem as encomenda e se reconhece a credibilidade do instituto que as realiza, é que é perigoso), mas em manipular resultados, com a intenção deliberada de conseguir vantagens.

A prática da manipulação

      Mas como funciona o esquema posto em prática pela ganância de muitas empresas do setor financeiro?
      Muito simples, caro Watson. Os agentes do sistema financeiro, respaldados em pesquisas, que nem chegam a ser divulgadas, disseminam boatos (com a Internet, a rapidez com que estas notícias correm é avassaladora!), dando conta de que tal e qual candidato perdeu ou ganhou pontos na avaliação do eleitor. Se esse candidato é o do Governo (e o desempenho de José Serra facilita este tipo de especulação) e, se a indicação é de que ele está em queda, a reação natural é o mercado balançar. Se a oposição ganhar, proclamam os especuladores, vai ser um "deus nos acuda". E caem as Bolsas e sobe o dólar. As "hienas" da especulação planejam o ataque e saem, por aí, lambendo os beiços com a carniça.
      Os institutos confessam que, logo que uma empresa registra uma nova pesquisa sobre a sucessão presidencial (este registro, em princípio, é obrigatório e costuma ficar exposto no site do Tribunal Superior Eleitoral (www.tse.gov.br), os seus telefones não param de tocar, devido à ânsia descontrolada dos especuladores pelo conhecimento prévio dos resultados.
      Mas é possível que a farra esteja perto do fim. Pelo menos, teremos provas concretas de que o jogo sujo está sendo feito e poderemos, o que é o ideal, dar nome aos bois (os especuladores).
      A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), responsável pela fiscalização e regulamentação do mercado de capitais, acaba de criar uma norma específica visando refrear a especulação financeira. De agora em diante, quando corretores ou investidores decidirem patrocinar pesquisas eleitorais precisarão, com um prazo de até 24 horas de antecedência, informar a CVM sobre a contratação do instituto. De posse desta informação, a CVM poderá acompanhar o comportamento do patrocinador desde o momento da contratação até a sua divulgação ao mercado. Se se confirmar o uso dos resultados das pesquisas no mercado futuro do dólar, a Comissão poderá atuar firmemente: multar o agente em até 3 vezes os ganhos obtidos e, se for o caso, cassar a sua liberdade de operação.A norma não impede que todas as ações nocivas dos agentes do sistema financeira sejam debeladas, mas mostra uma intenção de "não deixar barato a farra do boi".
      Joelmir Betting, em sua coluna de 16 de julho de 2002, vaticinava: "ganha-se ou perde-se muito dinheiro a cada corcova do efeito Lula, do efeito Serra, do efeito Ciro. .. Somos 174,4 milhões de reféns de meio milhar de especuladores".
      O marketing político passa a ter que incorporar estratégias para monitorar estas novas ações, oriundas de "gente de fora do negócio". Não é o caso de reforçar a tese de que "nosso País não é sério" porque manipular dados, especular contra a sociedade, não é virtude exclusiva do Brasil: a Enron, a WorldCom, a Xerox e outras grandes empresas, nesse caso, é que tem esse "know-how" prá vender. A gente, infelizmente, aprende depressa.
      Uma recomendação às empresas, partidos e candidatos: vale a pena dar uma olhadinha no documento do Instituto Ethos sobre a responsabilidade social no processo eleitoral. E praticar com seriedade o que está ali escrito.

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*Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e do curso de Jornalismo da USP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.

 
 
 
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