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Governança corporativa

:: Imprensa, tsunamis financeiros e governança

*Wilson da Costa Bueno

      Como um castelo de cartas, o mercado financeiro global vem rapidamente se desfazendo, evidenciando  a ganância dos banqueiros, a incompetência dos reguladores e a ingenuidade daqueles que têm acreditado que a "farra do boi" iria continuar para sempre.
      Na verdade, obedecida a lógica natural das coisas, o processo que ora se desencadeia e que já queimou mais de um trilhão de dólares (e cuja sangria ainda não se estancou), era mais ou menos óbvio porque em lugar algum, em sistema algum, existe a possibilidade de que todos saiam ganhando sempre. A conta tem que fechar, não é assim? Se um lucra deve ser à custa de outro que perde e, um dia, desfeito o circo financeiro, a realidade acaba vindo à tona. E foi isso que aconteceu nesse setembro negro de 2008.
      Qualquer que seja o final dessa história triste, há lições importantes a aprender, algumas já sinalizadas por especialistas e analistas de plantão e que vale a pena repetir.
      A primeira delas é que esse negócio de auto-regulação do mercado é uma balela porque, sobretudo no mercado financeiro onde prevalecem os predadores, alguém iria ser comido vivo um dia e a gente só espera que sejam os "Bushs" da vida , bancos, seguradoras e outras organizações que vivem da especulação, dos juros escorchantes, dos empréstimos sem garantia, essa ciranda maluca que envolve pessoas honestas, mas que acreditam que dinheiro legal é aquele que se ganha sem fazer força.
      O mercado não se auto-regula porque é controlado por oportunistas, pelos mais fortes e por todos os que não produzem mas que vivem se refastelando em mesas com comida farta, subsidiada pelos menos favorecidos. Isso vale para os Estados Unidos, para a Índia, para Singapura e para o Brasil.
      A segunda lição é que o capitalismo selvagem só é bom para os que têm o controle do jogo e que, quando as labaredas crescem,  são socorridos por governos omissos ou corruptos, preocupados com a quebradeira geral e, sobretudo, pelos resultados de eleições próximas, como é o caso do Bush e dos protagonistas dessa tragédia financeira nos EUA.
      A terceira lição é que, para evitar essas crises estruturais, será necessário repassar para a sociedade o controle do mercado, porque o sistema financeiro, no caso, tem uma ética e uma postura particulares, geralmente contrárias ao interesse público. Não é por outro motivo que a imagem do banqueiro é de vilão, ainda que um ou outro possa se livrar dela, mas efetivamente estes poucos são exceções num universo onde impera a ganância, a tendência de explorar os mais frágeis, de submeter os que precisam a exigências absurdas, taxas exorbitantes e por aí vai.
      Ao que parece, nossas instituições financeiras despontam como menos vulneráveis nesse momento (esse é pelo menos a promessa oficial), mas certamente têm sido favorecidas pelo fato de poderem, livremente, cobrar juros e taxas que contribuem para alimentar altos lucros e de constituírem um lobby formidável que, em muitos casos, subjuga  governos e parlamentares. Alguns bancos costumam gostar tanto de políticos que financiam recorrentemente suas campanhas, soltando dinheiro para candidatos de vários partidos, apostando na possibilidade de ficar "bem na fita" com os vencedores, sejam eles azuis ou vermelhos, de direita ou de esquerda. Como diz o ditado, para quem só pensa em dinheiro, ele não tem cor, cheiro, sabor etc. Predadores do sistema financeiro não têm opinião formada, fecham com as democracias e as ditaduras, assim como alguns monopólios de comunicação em nosso País. Na verdade, trocando em miúdos, são eles mesmos os donos da Política, enquanto autoridades desempenham apenas o papel de marionetes do capital especulativo ou de grandes corporações.
      É triste perceber como algumas grandes empresas brasileiras, exportadoras que se gabam de altos lucros e de grande penetração nos mercados nacionais e internacionais, andaram tendo prejuízos imensos com esta quebradeira toda. As perguntas fundamentais são: 1) elas viviam mais preocupadas com a especulação do que com o seu negócio principal? ; 2) elas não tinham noção alguma dos riscos que estavam correndo ou a farra estava boa demais para perceberem que um dia também teriam que pagar a conta? ; 3) por que eram tão cínicas a ponto de reclamarem do dólar baixo quando estavam exatamente apostando no real valorizado? ; 4) a culpa é do diretor financeiro que perdeu a cabeça? Não há governança em empresas desse porte e prejuízos de milhões podem ser causadas apenas por um executivo incompetente? Ou que seguia ordens como os soldados de Hitler?
      Toda crise é uma excelente oportunidade para rever atitudes, sistemas e arrumar a casa, embora dessa vez ela tenha ficado desarrumada demais. Todos iremos aprender bastante com ela, sobretudo a mídia, que anda, muitas vezes, correndo atrás de banqueiros, de executivos financeiros que gostam de dar lições sobre aplicações e administração eficaz. O capitalismo, que sairá novamente desta crise, levou pelo menos uma bordoada merecida: não é possível deixar a raposa tomando conta do galinheiro porque ela tem um apetite voraz e ética alguma.
      A governança de algumas empresas brasileiras não é sadia (desculpe o trocadilho) e de outras costuma fazer " papelão" (desculpe novamente o trocadilho) e precisamos avançar muito em transparência, controle de capitais especulativos, governança no bom sentido (este Novo Mercado parece que nasceu velho, não é mesmo?).
      Não confie em auto-regulação. Esse negócio de empresa de bebidas, alimentos, montadoras, farmacêuticas etc regularem a propaganda por conta própria é história para boi dormir. Elas só tomam alguma medida para preservar o interesse público quando pressionadas mesmo pela sociedade. Se deixadas por conta própria, continuarão engordando nossas crianças, matando jovens  no trânsito, estimulando a velocidade em seus comerciais de carros possantes e vendendo remédio que não cura e ainda pode causar danos à saúde. Responsabilidade social só no discurso. Elas entendem de lucros e de lobby (nem sempre ilegítimo), mas têm a vantagem de serem grandes anunciantes. É disso que caciques e bispos da mídia adoram.
      Em tempo1: ninguém vai proibir aquele comercial de "tome um antes e outro depois"? Esse mundo está virando uma enorme "balada".  Com isso, a "galera" jovem, estimulada a beber e a comer à vontade, vai continuar se ferrando.
      Em tempo 2: Precisamos dar força total para a ANVISA para que possa resistir a pressões insuportáveis das empresas de agrotóxicos, de amianto, laboratórios, de bebidas, de alimentos etc. Que tal divulgar os nomes das farmacêuticas que vivem repetidamente desobedecendo a legislação da propaganda? Precisamos saber quem são aquelas que tentam enganar os consumidores e puni-las exemplarmente. E aquelas acusadas de pertencerem à máfia dos medicamentos em São Paulo continuarão anunciando na TV? Será que a Polícia ainda tem algemas disponíveis? Será que um dia vão conseguir inventar transgênicos que não precisem de agrotóxicos para que funcionem? Vai continuar sempre essa operação casada, engordando o bolso de empresas agroquímicas e contaminando solo, água, ar etc? Agrotóxico é veneno e mata, sabia?

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*Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e professor de Jornalismo da ECA/USP. Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.

 
 
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