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Comunicação e cultura organizacionais

:: A comunicação e o processo de fusão das organizações

*Wilson da Costa Bueno

      As organizações, assim como os seres humanos e também as estrelas, têm um ciclo de vida: nascem, crescem e um dia, por algum motivo, sucumbem , ainda que se deva admitir que umas poucas pareçam ter 7 fôlegos (como alguns políticos colloridos) e, mesmo com a nossa torcida, insistam em permanecer ativas.
      A globalização tem acelerado esse processo de destruição das organizações (os adeptos da globalização querem nos convencer de que se trata de uma destruição criativa, transformadora), em função do ritmo frenético de fusões/aquisições, verdadeiro xeque-mate para empresas nacionais ou estrangeiras.
      No momento, estamos assistindo a um vigoroso processo de "mixagem" e/ou colapso de importantes empresas, particularmente de bancos no Brasil e de laboratórios farmacêuticos em todo o mundo.
      Nesse caso, será difícil imaginarmos que estas fusões/aquisições representem algo positivo sobretudo porque o resultado imediato é uma concentração absurda que, a curto, médio e longo prazos, penaliza os cidadãos e consumidores. Alguém pode achar saudável ficar dependente de uma ou duas empresas quando estamos falando de medicamentos ou de bancos? Alguém pode saudar o monopólio das sementes, como o que está em curso sob a liderança da Monsanto, com sua ganância transgênica?
      As fusões e aquisições podem, eventualmente, em raríssimos casos, trazer algum benefício, mas, de maneira geral, num capitalismo selvagem como o que atravessamos, elas costumam cobrar da sociedade a fatura lá adiante. Isso acontece há décadas com o monopólio de grandes grupos de comunicação e suas conseqüências nefastas que vão desde a ameaça à diversidade de opiniões ao controle do horário dos jogos de futebol, passando por lobbies formidáveis que lhes permitem manter os seus privilégios.
      Todo processo de concentração implica em risco porque tem como objetivo o domínio do mercado, sempre à custa da nossa liberdade. Todos temos assistido ao escandaloso duopólio na área da aviação comercial, com a TAM e a Gol impondo linhas, destinos e preços, com a conivência ou a inoperância das autoridades.  Todos padecemos na mão de alguns laboratórios farmacêuticos que controlam o mercado para algumas áreas específicas de aplicação e que nos impõem preços e condições abusivas. Todos saberemos um dia o que significa esse avanço brutal, sem qualquer resistência oficial, de duas ou 3 corporações ao universo das sementes, tradicionais ou transgênicas, e assim por diante.
      A imprensa, e os colegas jornalistas em particular, precisam estar atentos para essa realidade porque, na prática, costumam festejar o gigantismo de algumas organizações que engolem sem dó os seus concorrentes como se a questão se resumisse apenas a um aspecto meramente econômico, de expansão dos negócios. Não conseguem enxergar que, subjacente a este processo de fusão/aquisição de bancos, laboratórios, empresas de sementes etc, está o risco à soberania nacional, à liberdade de escolha dos consumidores e cidadãos e o desejo de ditar monopolísticamente as regras (e os preços) no mercado.
      Usando a própria lógica do mercado, podemos dizer que, se alguém ganha, provavelmente (ou necessariamente) alguém estará perdendo porque, conforme se aprende no colégio e no mercado, nada se cria, tudo se transforma. No caso das fusões nas áreas anteriormente mencionadas, quase sempre há perdedores que não fizeram parte do processo, não foram sequer consultados, como os funcionários, os consumidores e clientes, os pacientes etc. Sobra invariavelmente no lombo dos mais fracos que, na prática, pagam efetivamente o preço destas fusões/aquisições.
      Não são apenas marcas que desaparecem, mas posturas empresariais que, em muitos casos, mereciam ser preservadas. Esta é a situação do Banco Real, adquirido pelo Santander e que, como anunciado na TV com grande pompa, estará em breve sumindo da praça, depois de um longo tempo cultivando o conceito de sustentabilidade. Quem conhece a cultura dos dois bancos (embora eles tenham um DNA comum a todo o sistema financeiro, nocivo para os correntistas e clientes em geral, porque incorpora o gene recessivo da ganância financeira!), sabe que, pelo menos o Santander, não tem compromisso algum com a sustentabilidade planetária (aliás, esse discurso do sistema financeiro é de uma hipocrisia e de um cinismo impares) na perspectiva como a entendemos e volta-se entusiasticamente para a sua própria sustentabilidade e de seus investidores. A fusão não elimina um banco apenas, mas legitima a derrocada de um conceito importante em nome da rentabilidade, da lucratividade. No fundo, todos estamos sofrendo na pele a sustentabilidade (????) do sistema financeiro que está sendo salvo pelos bilhões de dólares doados pelos governos (quer dizer, por todos nós) ao mesmo tempo que milhões de pessoas perdem os empregos.
      Não há milagres nem bondades nessa área e infelizmente a imprensa não tem conseguido enxergar um palmo à frente, saudando, equivocadamente, fusões e aquisições como cases de sucesso empresarial sem se dar conta de que alguém (nós todos) iremos pagar essa conta no futuro.
      Não é verdade que o mercado fica mais forte com as fusões e aquisições; pelo contrário, ele fica mais concentrado, menos democrático, especialmente em áreas estratégicas onde faltam alternativas. Que escolha temos quando dois ou três fabricantes apenas fornecem um produto (remédio para câncer ou hipertensão, por exemplo) ou vendem passagens aéreas? E que riscos graves corremos quando esses dois ou três fabricantes combinam o preço para "ferrar" os pacientes? Que liberdade teremos com 4 ou 5 bancos dominarem todo o mercado financeiro? Que tédio será assistirmos a uma única emissora de TV?
       A imprensa e os jornalistas precisam ser mais críticos. Infelizmente, os cadernos e páginas de economia não passam, com raras exceções, de meros depósitos de releases e falas oficiais, a serviço dos grandes interesses. Vivem de coletivas bem organizadas. Uma pobreza só. Já fomos melhores.

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*Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e professor de Jornalismo da ECA/USP. Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.

 
 
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