Regina Célia Escudero César*
Resumo
Reflexão sobre as bases metodológicas que fundamentam a teoria das relações públicas. Propõe-se uma renovação em seu embasamento teórico-prático, desta vez concebido no marco de una visão dialética e holística da realidade, capaz de intervir de modo efetivo para transformá-la. Reavaliam-se as funções do profissional, reinserindo-as neste novo paradigma, demonstrando casos práticos desenvolvidos em uma ONG e em outras organizações empresariais.
Palavras-chaves: relações públicas. Comunidade.
Metodologia.
Abstract
Reflections on the
methological bases which support the theory of public relations.
This study proposes a renewal in its theoretical and pratical
foundations within a dialectic and holistic view of the
reality, which is able to effectively intervene to transform
it. It resumes the functions of the professional, placing
them into a new paradigm and presenting practical cases
that took place in a non-governmental organization and in
other entrepreneurial organizations.
Key-words: Public relations. Community. Methodology.
Resumen
Reflexión
sobre las bases metodológicas que fundamentan la teoría
de las relaciones públicas. Se propone una renovación en
su cimiento teórico-práctico, de esta vez concibido en el
marco de una visón dialéctica y holística de la realidad,
capaz de intervenir de modo efectivo para transformarla.
Se reconsidera las funciones del profesional, insertándolas
en este nuevo paradigma y demonstrando casos prácticos desarrollados
en una ONG y otras organizaciones empresariales.
Palabras-llaves: Relaciones públicas. Comunidad.
Metodología.
A teoria das
relações públicas é fortemente influenciada por conceitos
metodológicos positivistas e funcionais. Desde suas primeiras
elaborações busca-se legitimar e preservar o sistema vigente,
seja estando ao lado de fortes estruturas empresariais isoladamente,
seja dentro do contexto macrossocial.
Hoje a "preocupação
social" anunciada por todo lado do País, força o relações-públicas
a adotar posturas diferentes daquelas praticadas por Ivy
Lee, que é considerado o primeiro profissional de relacionamento
com os públicos pela literatura da área, e que no trato
com a opinião pública foi irresponsável e desumano. É conhecido
por todos estudiosos o "final feliz" dado por
Lee a um triste capítulo da história desta profissão. Desviou-se
a atenção da opinião pública com doações de Rockfeller a
casas assistenciais e outros fins também filantrópicos,
ficando as marcas da violência contra os funcionários e
o impasse criado pela greve sem nenhuma solução. As demissões
foram em massa, sem que tal agravante social fosse sequer
questionado pela opinião pública, uma vez que esta encontrava-se
criticamente adormecida pelas mensagens e atos "generosos"
de Rockefeller.
Hoje esta opção ideológica
das relações públicas pelo capital tenta ser escamoteada
em seus princípios teóricos. Historicamente, a sua teoria
teve como base de sustentação o funcionalismo, estreitamente
vinculado com o desenvol-vimento capitalista. Entretanto,
devido às recentes exigências de posturas sociais mais engajadas
do profissional, este posicionamento tem se tornado menos
explícito, formulando-se discursos voltados à qualidade
de vida do homem em sua comunidade.
Entretanto, tal postura
é marcada por uma fragilidade profunda em seus métodos e
metodologia. Na análise que fizemos sobre este conteúdo,
pode ser constatado que apesar do que se diz sobre o problema
social, não se analisa e nem são feitas reflexões sobre
as formas de intervenção que efetivamente o profissional
pode adotar na sociedade para colaborar na sua transformação.
A força das relações
públicas é ainda pautada na criação de imagens através da
promoção de eventos e apoios institucionais a determinadas
campa-nhas, até mesmo sociais. O que se questiona nestes
apoios é sua capacidade de reverter o quadro social e criar,
verdadeiramente, públicos capazes de correspon-der às belas
definições de relações públicas:
A presença da controvérsia, a oportunidade de discussão e o apareci-mento de uma decisão ou opinião coletiva marcam as características do agrupamento coletivo chamado púbico (...), público são pessoas ou grupos organizados de pessoas, sem dependência de contato físicos, encarando uma controvérsia, com idéias divididas quanto à solução ou medidas a serem tomadas frente a ela; com oportunidade para discuti-la, acompanhando e participando do debate por intermédio dos veículos de comunicação ou da interação pessoal (Andrade, 1983, p.17-18).
Por esta razão, acreditamos ser essencial à participação do profissional na sociedade que haja uma renovação em seu conteúdo teórico, assumindo um novo paradigma metodológico e ideológico, capaz de colaborar com o desenvolvi-mento comunitário.
É nítida a existência de compromissos fortes com a preservação da situação social existente, mas há também uma prática que, aqui e acolá, vem subvertendo esta visão fragmentada da sociedade. É justamente aí que se encontra uma demonstração clara de um caso isolado onde a prática social, marcada pelo dinamismo, acabou por superar uma teoria, estagnada no tempo e por isto incapaz de criar um novo espaço social. Trata-se de caso raro dentro da relação teoria e prática, onde, em geral, a primeira é vanguarda em relação à segunda.
Até mais ou menos dez anos relações públicas eram concebidas teoricamente e praticadas majoritariamente enquanto um instrumental a serviço do capital, dos governos e da hegemonia das classes dominantes. Mas, a sociedade é dinâmica e, acompanhando as mudanças que vêm ocorrendo no interior da sociedade brasileira, às relações públicas também chegou a vez de deixarem se mudar. Hoje, teórica e pratica-mente, é possível falar de relações públicas populares, ou comunitárias, orgânicas às classes subalternas. Ou seja, de um trabalho de relações públicas comprometido com os interesses dos segmentos sociais subalternos organizados ou, num sentido mais amplo, com o interesse público. (Peruzzo, 1993, p.125)
Sendo que o alicerce
teórico desta prática ainda está por ser criado, aí reside
importante espaço ao intelectual realmente comprometido
com a qualidade de vida da sua comunidade.
Conflito versus
controvérsia
A sociedade é tratada
de maneira inabalável e administrável pela teoria das relações
públicas. Andrade, que é um dos autores com maior influência
sobre a formação dos profissionais brasileiros, a situa
como responsável pela criação do agrupamento coletivo público
em meio a uma situação controvertida. Há, de sua parte,
uma homogeneização das atitudes das pessoas frente a uma
situação de conflito, como se os atos diante de tal situação
pudessem ser previsíveis. A sociedade, assim, é entendida
como se fosse uma engrenagem facilmente controlada através
das ações em prol da "compreensão mútua".
O fator controverso
é visto dentro desta teoria como válvula impul-sionadora
para a criação de um novo ambiente social, fruto de sua
mágica atuação na "administração da controvérsia".
O conflito social existente
na sociedade aparece como pano de fundo, sendo esta questão
pouco ou nada problematizada. Quando o fazem, seguem uma
abordagem puramente funcionalista, cuja ideologia serve
de apoio e sustento à manutenção do status quo. Em
síntese, a sociedade é vista de forma fragmentada e funcional,
onde os seus elementos existem para manter o todo social
coeso e harmônico.
Ao contrário, a teoria
dialética que fundamenta a nova proposta de relações públicas
comunitárias parte da análise do conflito para buscar em
suas raízes sociais, culturais e econômicas as razões e
formas de superá-lo, através de um processo constante de
criação de novas possibilidades de relacionamento social.
A dialética vê na relação
de conflito o ponto de partida para a renovação social,
uma vez que do confronto entre as partes contrárias, faz
emergir uma nova realidade, e que será novamente superada,
num vaivém constante, tal como é a dinâmica social.
A relação de conflito
entre as classes dominante e dominada presente em nosso
dia-a-dia é pouco ou nada questionada pela teoria clássica
das relações públicas, que a situa à margem da controvérsia.
A maioria das produções científicas existentes constituem-se
em relatos de casos práticos, o que dificulta sua extrapolação
a outras realidades. São fórmulas prontas que só cabem dentro
de padrões determinados. Não há no relato destes casos uma
problematização prévia da realidade, somente a demonstração
das técnicas utilizadas para a criação do case.
Se houvesse uma abordagem
teórica que fundamentasse a exposição do caso, seria possível
uma leitura mais crítica por parte do profissional, pois
a teoria transcende a prática e possibilita sua transformação,
sendo a prática a adaptação da teoria a situações específicas.
Por último, caberá ao intelectual optar pela forma de intervir
no contexto, seja para legitimá-lo ou para transformá-lo.
Papel das relações
públicas no desenvolvimento comunitário
A comunicação comunitária
é uma disciplina que vem sendo estudada e explorada pelos
pesquisadores da área no Brasil desde meados dos anos oitenta.
É recente, portanto, sua existência científica. Entretanto,
já é madura como prática em favor da cidadania da população
oprimida e de seus movimentos sociais. Nos anos setenta,
marcados pela grande repressão política, a comuni-cação
comunitária esteve presente articulando estes grupos e criando
meios alternativos de comunicação como os populares. Encabeçada
por intelectuais orgânicos às classes com menores condições
de organização e comprometidos com as transformações sociais
e políticas, esta prática comunitária auxiliou os movimentos
sociais, dando-lhes nova forma e contorno na sua relação
com a sociedade e na sua resistência às forças opressoras.
No entanto, em meio
a tanta censura e pelo profundo envolvimento com a dinâmica
desses movimentos, poucas foram as experiências registradas
que poderiam nos servir de memória e referência histórica.
Para Regina Festa (1984: 68), estudiosa da comunicação alternativa
e popular, os anos setenta foram um processo de aprendizagem
recíproco e dialético entre os intelectuais orgânicos às
classes dominadas e seus participantes, apesar de todo o
verticalismo que persistiu em muitas experiências. Segundo
a autora, foi uma época em que "muito se dizia e pouco
se comunicava por todo o País".
Nos anos oitenta e noventa,
então, é que são expressados os estudos existentes neste
sentido, dentre os quais a dissertação de mestrado defendida
por nós na Universidade Metodista de São Paulo Relações
públicas comunitárias: uma exigência da sociedade civil
brasileira , sendo ela a base de sustentação deste
estudo.
Nesta pesquisa propomos
o engajamento do profissional de relações públicas na dinâmica
social e a reformulação do enfoque teórico que orienta sua
atuação, a fim de acompanhar as exigências e transformações
ocorridas na sociedade civil brasileira.
O que se deseja é um
processo que determine a conquista da cidadania.
A comunicação é um processo de troca entre emissores e receptores,
a fim de que as informações sejam repassadas de forma acessível
às partes envolvidas no processo. Sem comunicação social
as informações não têm seu valor de troca e nem beneficiam
na melhoria da qualidade de vida do cidadão. Não têm, portanto,
seu valor social. Uma vez que a comunicação é troca, o saber
não pode restringir-se a um só pólo do processo, há que
existir o intercâmbio de informações e o crescimento mútuo.
As relações públicas
comunitárias apontam para a necessidade de uma revolução
na práxis deste profissional, ou seja, algo que signifique
o seu engajamento na realidade, buscando a superação de
seus conflitos através da comunicação.
A proposta é, essencialmente,
alertar para que o relações públicas deixe de lado sua opção
academicista de formação de públicos e passe a perceber
criticamente as características sócio-culturais e econômicas
que formam a base das estruturas dos diferentes grupos.
Mais do que uma atividade
desenvolvida em bairros periféricos, no sentido popular
do termo, as relações públicas comunitárias significam uma
proposta metodológica onde o profissional passa a conceber
a sociedade sob a ótica dialética, procurando a sua transformação.
Longe de propor uma
revolução ou "luta armada", as relações públicas
comunitárias neste sentido buscam o estabelecimento de canais
mais verdadeiros de integração, onde o público seja realmente
cidadão da comunicação. É fundamental para o relações-públicas
que ele se posicione como sujeito da história a serviço
do coletivo e não como agente de criação de projetos para
atender a fins individuais.
Vale lembrar que durante
o período pós-1964, este desenvolvimento comunitário ficou
situado em ações assistencialistas de profissionais de diferentes
áreas, que tinham em comum a salvaguarda de suas atividades
pela política governamental. Os movimentos que buscavam
legitimamente o fortalecimento da cidadania foram reprimidos
pelo regime.
Neste período, o governo
sente a necessidade de conquistar a simpatia das classes
subordinadas, acionando programas dito populares, mas politicamente
inócuos. Sob esta perspectiva, são implementados "programas
comunitários" como o Banco Nacional de Habitação -
BNH; o projeto Rondon; o Movimento Brasileiro de Alfabetização
- Mobral; os Centros Rurais Universitários de Treinamento
de Ação Comunitária Crutacs, etc. Eram programas
que adotavam como estratégia o desenvolvimento de trabalhos
comunitários que faziam as populações "carentes"
acreditarem que seus problemas estavam sendo resolvidos.
Era o que acontecia, por exemplo, com as casas populares,
que, de longe, não atendiam às necessidades e direitos do
cidadão. Através desta prática do governo, foi possível
a ele, além de situar as classes dominadas como o público
consumidor de sua política nacional, ganhar seu apoio logístico.
De forma geral, pode-se
concluir que o desenvolvimento comunitário no Brasil deste
período foi, no dizer de Ammann (1985, p.161), "um
instrumento ideológico de caráter acrítico, pois
não questionou as estruturas de poder, mas, ao contrário,
acabou por reproduzi-los".
Após estas constatações
Ammann questiona sobre qual será o devir do desenvolvimento
comunitário no Brasil, sublinhando a necessidade de uma
renovação de valores entre os intelectuais, pautada em novos
métodos e metodologias.
Haguette situa neste
contexto histórico a pesquisa e o planejamento participativo,
sendo cooptados pelos governos autoritários da América Latina
para o desenvolvimento de suas propostas políticas e sociais.
Enquanto de um lado se apresentavam as propostas de educação
libertadora de Paulo Freire, de outro lado via-se a captação
destas idéias para fins nada libertadores.
O estilo participativo de pesquisa e planejamento, entretanto, não representava o monopólio desta corrente libertadora, já que era amplamente praticado na América Latina por governos autoritários que, ao incorporar as populações no processo de investigação, visaram também o seu controle através de ações paliativas e assistencialistas e, consequentemente, a manutenção e permanência do status quo, ou seja, das estruturas básicas de dominação (Haguette, 1997, p.110).
Sem uma total inversão
desta prática social, será impossível ao intelectual acompanhar
os novos rumos da sociedade que hoje abre brechas importantes
e possíveis de serem ocupadas por aqueles preocupados com
o estabelecimento de uma sociedade mais humana e digna da
existência do homem dentro dela, enquanto cidadão.
A abertura de brechas
significa que é dado ao profissional a possibilidade de
no meio do caos se estabelecer a dignidade. Significa que
ele não precisa se colocar à margem da sociedade para preservar
a sua própria opção ideológica e seus objetivos profissionais,
desde que estes estejam verdadeiramente arraigados à sua
formação ética. Com isto afirmamos que as mudanças só são
possíveis dentro do mundo, e não fora dele. Por este motivo
consideramos que a ocupação de brechas é um passo fundamental
para a transformação de uma sociedade como a que vivemos,
marcada por contrastes e conflitos entre os homens.
O conceito de comunidade
concebido pelos sociólogos funcionalistas mostram-na como
uma realidade distante do todo social. Já sobre a dimensão
dialética, a comunidade é situada em meio ao caos social
e é nele que se trabalha a fim de superá-lo.
Para os funcionalistas
uma comunidade é marcada pela harmonia entre os homens e
pela busca do bem comum. Tal conceito, entretanto, está
longe da realidade. Pois, como não existe comunidade que
subsista econômica e socialmente sem um vínculo direto com
a sociedade na qual está inserida, somente atividades assistencialistas,
que não revelam a natureza do problema, são compatíveis
com esta concepção. É por este prisma que são justificadas
as ações em prol da reprodução das relações de poder existentes
na sociedade.
Desta forma, as relações
públicas comunitárias defendidas por nós significam uma
mudança de paradigma pelo profissional, e não seu deslocamento
para uma realidade que se supõe "menos contaminada".
Propõe o estabelecimento de princípios que realmente criem
canais efetivos de comunicação e valorização do homem como
cidadão.
Na busca de novos
paradigmas para as funções de relações públicas
Acreditamos que esta
renovação metodológica das relações públicas deva ser iniciada
pela revisão de seu quadro de "funções básicas",
definidas pela Comisión Interamericana para la Enseñanza
de las Relaciones Públicas Ciperp, no IV Congresso
Mundial de Relações Públicas, realizado em outubro de 1967,
no Rio de Janeiro:
- Assessoria
- Pesquisa
- Planejamento
- Execução (comunicação)
- Avaliação
Estas funções foram concebidas e vêm até hoje sendo praticadas pela maioria dos profissionais, seguindo a concepção funcionalista. A partir do momento em que se propõe uma reflexão sobre esta sua base metodológica, é conseqüência natural que também sejam reinterpretadas suas funções.
Para iniciar esta reflexão, fazemos uma análise da função pesquisa, pois a partir dela e por meio dela pode-se criar um relacionamento diferenciado e mais alinhado com a prática das relações públicas comunitárias na forma como propomos. Quando a pesquisa segue um referencial autenticamente dialético, ela, por si só, desencadeia um processo de conscientização sobre a problemática social da comunidade, uma vez que envolve seus membros nesta discussão. A partir da problematização da realidade definem-se políticas de ação, num verdadeiro processo de planejamento participativo, onde há a distribuição das responsabilidades pela ação planejada entre seus participantes.
Neste sentido, o planejamento é um ato que se constrói a partir da experiência de todos os envolvidos no seu processo, não pode ser formulado entre quatro paredes, pois valoriza o conhecimento específico e a interpretação que cada um dos participantes faz sobre a mesma realidade. Tanto na sua fase de elaboração, quanto de execução, há a necessidade constante de pesquisar e avaliar seu desenvolvimento adotando métodos de pesquisa participante. Segundo Whitaker Ferreira, só através desta participação é possível formular um planejamento que acompanhe as mudanças sociais. A atividade do pensar sobre o planejamento não se dá desvinculada de sua prática. Não há, também aqui, um ser que planeja e um outro que executa:
Todos que estão implicados na ação devem participar do planejamento, cada um com seus conhecimentos específicos, tirados dos conhecimentos já disponíveis por aí, ou diretamente da experiência prática (Ferreira, 1987, p.26).
O mesmo ocorre com
a função execução (comunicação), que aparece
como necessidade do grupo quando se conscientiza de sua
problemática através do processo de pesquisa-ação. A comunicação
é sentida pelo grupo como um importante instrumento de sensibilização
da opinião pública sobre a problemática da comunidade, no
processo de "conquista de aliados". Esta conquista
ocorre às vezes pela ótica da unidade de contrários ou então
pelo envolvimento de pessoas sensibilizadas com a causa
comunitária.
Já a função assessoria
é aqui revista pelo modo de participação do profissional
dentro do grupo, que deixa de ser seu cliente para se tornar
seu companheiro de trabalho, tão responsável quanto o profissional
pelo desenvolvimento comunitário. Portanto, a revisão metodológica
desta função é um dos pressupostos fundamentais para a consecução
da mudança que sustentamos até aqui, ou seja, ela requer
uma inversão do papel do intelectual no desenvolvimento
comunitário, que deve assumir-se como sendo realmente um
agente externo da comunidade, mas que esteja atuando dentro
de uma ótica de participação que não exclua nenhum de seus
membros do processo decisório. Pelo contrário, que promova
a abertura de canais competentes de participação. Neste
caso, as técnicas do profissional são disponibilizadas para
que o próprio grupo possa crescer no processo de desenvolvimento
comunitário.
Trata-se de outra forma de intervir na realidade, ou seja, uma forma que passa por dois momentos cruciais: pela autocrítica, que sabe corajosamente reconhecer suas tendências impositivas, e pelo diálogo aberto com os interessados, que já não são mais vistos como objeto, clientela, alvo. (Demo, 1988, p.21).
E, por último, a função
avaliação, que, de novo, é uma forma de pesquisa
ou, melhor, uma de suas fases, dentro do processo total
do ato de pesquisar.
Em síntese, a pesquisa
inicia-se com o levantamento de dados (problematização da
realidade) e passa pela assessoria quando procura ouvir
a comunidade sobre sua problemática, possibilitando que
seja desencadeado um processo de conscientização da mesma.
Pode-se, então definir uma política de ação (planejamento)
em torno da realidade pesquisada. Todo este processo só
se viabiliza através da comunicação, enquanto um meio de
interação entre seus participantes e um objetivo descoberto
por eles, na medida em que a necessidade de sensibilização
da opinião pública geralmente surge tanto para tornar o
movimento forte e legítimo, quanto para facilitar no processo
de conquista dos aliados.
O que se percebe nesta
concepção de relações públicas comunitárias é uma interrelação
das funções, atuando de forma conjunta e integrada no conhecimento
e transformação da realidade.
Ressaltamos, entretanto,
que, como em qualquer outro processo, o de pesquisa não
pode se conceber cronologicamente e nem de forma previsível,
mas diante das circunstâncias e informações advindas durante
o seu desenvolvimento. A realidade só pode ser concebida
e tratada objetivamente pelas ciências naturais, empíricas.
O objeto das ciências sociais é o conflito, dentro de um
contexto histórico determinado, e este não é previsível
e nem tampouco controlável .
Planejamento em
relações públicas comunitárias
Consideramos que no
relacionamento comunitário tem de haver por parte dos pólos
interlocutores um interesse em superar o conflito. Caso
contrário, não se estabelecem compromissos e a atividade
passa a ser puramente assistencialista.
Não importa ao trabalho
o saber técnico do profissional, mas o momento em que tal
saber é compartilhado com o público, a fim de instrumentalizá-lo
para a superação do conflito, técnica e criticamente.
A atuação comunitária
requer constante avaliação entre as partes envolvidas. Assim,
é interessante que a atividade seja sempre de equipe ou,
caso isto não se torne possível, que se discuta o desenrolar
de seu desenvolvimento com outros profissionais, para que
não haja uma ação voltada a atender expectativas pessoais.
Basicamente o trabalho
percorre as seguintes etapas:
- Reconhecimento do conflito
- Problematização da realidade
- Caracterização dos públicos envolvidos
- Levantamento das prioridades
- Consulta a especialistas/ Conquista dos aliados
- Estratégias de ação
- Avaliação
É fundamental frisar
que não se trata de um roteiro, mas de constatações feitas
a partir de nossa experiência em atividades comunitárias.
Nem sempre estas se dão nesta ordem, pois não há uma relação
linear nas relações públicas comunitárias.
O prioritário é o conhecimento
da realidade e o respeito às suas características. Valendo-se
destes princípios, as ações são desencadeadas naturalmente,
num processo fecundo de comunicação horizontal.
O início é sempre marcado
pela conquista da confiança do grupo. Efetivamente somos
diferentes do grupo, pois acumulamos o saber, uma história
de vida que segue outros referenciais. Nem melhores e nem
piores, apenas diferentes. A consciência desta diferença
é essencial nesta etapa. Temos que nos assumir como diferentes,
sem máscaras e sem preconceitos. Quando estas máscaras caem,
o saber é então compartilhado.
Comunicação é esta troca
entre pólos distintos na busca da comunhão dos saberes.
É o ato de compartilhar a informação a fim de transformar
uma situação.
A convivência com o
meio e seus integrantes é sempre fundamental para adquirirmos
um diagnóstico amplo da realidade. É no momento da problematização
da realidade que percebemos o movimento social, os grupos,
subgrupos, lideranças, jogos de interesses, diferenças políticas
e os aspectos sociais, culturais e econômicos da comunidade.
O grupo é aos poucos
conhecido dentro de uma perspectiva horizontal (contextualizando-o)
e vertical (buscando as raízes dos problemas e sua história).
Sob esta visão dialética, conseguimos perceber o movimento
social, em sua relação de causa e efeito.
Assim, quando falamos
na caracterização dos públicos envolvidos, não queremos
apenas defini-los em segmentos de públicos externo, interno
e misto, pois entendemos a comunidade como um público que
deve ser visto na sua interrelação, em seu contexto mais
amplo.
As características fundamentais
do público, que são o acesso à informação e a discussão
racional das controvérsias, devem ser rediscutidas no âmbito
das relações públicas comunitárias.
É certo que o acesso
à informação está hoje muito mais facilitado. Já não podemos
cair na separação simplista entre massa e público.
Nas comunidades periféricas
em que atuamos, os grupos tinham em comum a busca pela informação
necessária à solução de seus problemas e conflitos. Entretanto
esbarravam num ponto importante que se interpõe em qualquer
situação do direito social à informação: o fator econômico
e suas implicações.
O que se vê não é a
diferença entre massa e público, mas entre os que têm mais
e os que têm menos. Aos que têm menos só resta o direito
de conquistar a sua informação. E aos que têm mais, é necessário
fazer campanhas de mobilização ou então de sensibilização
às causas coletivas.
Por outro lado, um projeto sério de PP não deve ter necessidade de "motivar o grupo a participar de algo que é útil para ele", nem pode exigir um compromisso de participação por parte da comunidade; isto seria a "própria negação da legitimidade de um projeto de PP" (Gianotten e De With, 1985: 173-174). Este tipo de participação é típico de trabalhos de cunho assistencialista que desde há muito são desenvolvidos em comunidades carentes, e nada têm a ver com a PP. O processo aparentemente parcelar da participação de grupos ou comunidades se configura em uma totalidade que é representada no processo de conversão do "saber popular espontâneo" em um "saber popular orgânico" (conhecimento científico). É nesta perspectiva que a necessidade de motivar a população a participar perde consistência, pois é vista como algo exterior ao processo de aprendizagem (...) (Haguette, 1997, p.163).
Um exemplo interessante,
e que mostra a informação como uma conquista do grupo, aconteceu
em uma comunidade periférica da região sul de Londrina (PR),
onde trabalhamos durante algum tempo, no bairro União da
Vitória.
Trata-se de uma comunidade
bastante marginalizada pelos moradores desta cidade em função
de seu nascimento e formação. Originária de um assentamento
de sem-terra, aos poucos ela foi se transformando num bairro
ou, melhor, num aglomerado de casas que até há pouco tempo
não possuía nem nome de rua e nem números nas casas. Por
este aspecto, foi sendo desenvolvido um estigma entre a
população de Londrina que aos poucos desencadeou uma série
de fatos sociais que colocaram o União da Vitória na marginalidade
econômica, cultural e social.
Os seus moradores não
conseguiam encontrar emprego na cidade e aos poucos o tráfico
de drogas passou a ser uma opção de fonte de renda de boa
parcela dos habitantes. Este rótulo (de traficante) foi
estendido para todos os moradores do bairro, que foram totalmente
excluídos dos direitos comuns de relacionamento social.
A informação passada sobre eles pelos meios de comunicação
da cidade estava sempre comprometida com este estigma social.
Procurar um emprego e falar que morava na rua sem nome do
"União da Vitória" era então verdadeiro ato de
heroísmo.
Em função destes fatores,
e até como meio de sobrevivência, a comunidade decidiu se
articular num grupo e criar seu próprio veículo de comunicação
o Boca no Mundo. Nele era mostrada à cidade
de Londrina a realidade dos fatos que estavam por de trás
deste rótulo.
O jornal, com uma tiragem
de 2,1 mil exemplares, era elaborado e distribuído pelos
próprios moradores às famílias do bairro, atingindo cerca
de 12 mil moradores e ainda enviado pelo correio às lideranças
da cidade. Nossa participação se dava na coordenação e no
treinamento da equipe de comunicação criada por eles, através
de um projeto de extensão universitária da Universidade
Estadual de Londrina.
Devido a este vínculo
institucional, recebemos uma ajuda financeira e operacional
que arcou com os custos do jornal.
Foi um veículo de curta
duração, mas foi expressivo na história daquele bairro,
pois desencadeou a resolução de um processo que vinha sendo
há muito tempo "empurrado" pelo poder público
da cidade. A linha de transporte coletivo que servia a região
não circulava no interior do bairro, sendo que a concessionária
do serviço que detinha o monopólio no setor não apresentava
razões plausíveis para tanto. Os usuários tinham que se
locomover até uma rodovia de tráfego intenso e perigoso
para poderem se utilizar da linha de ônibus que ligava a
região ao centro da cidade.
Por muito tempo a população
tentou articular vias de reivindicação tanto junto à empresa
como à prefeitura. As tentativas sempre resultaram frustradas
até que, com matérias de ampla repercussão no Boca no
Mundo em edições extras também destinadas à população
da cidade, abriu-se um canal de negociação entre as partes
e, finalmente, definiu-se pela criação de uma linha especial
de transporte coletivo que servisse o bairro de uma forma
completa, ou seja, com a circulação dos veículos no seu
interior.
Por este exemplo podemos
perceber a motivação para um trabalho coletivo e que envolve
de fato a formação de públicos em relações públicas quando
os grupos em questão são os excluídos do direito dito social
à informação.
Na sociedade moderna
e globalizada o sentimento coletivo é cada vez mais escasso.
O indivíduo, este sim, é bem informado.
No próximo tópico vamos
analisar a possibilidade das relações públicas comunitárias
num contexto onde historicamente as relações públicas nasceram
para "atenuar" as desigualdades e colocar "panos
quentes" nos conflitos sociais.
As relações públicas
comunitárias no contexto empresarial
Quando a empresa resolve
se interagir com seu meio social, adotando uma política
de portas realmente abertas, o profissional
tem que tirar de sua bagagem de conhecimento os vícios de
um trabalho que não pode se "contaminar" com o
modo de ver o mundo de seu público-alvo.
Um aspecto que deve
ser flexibilizado, conforme a característica e evolução
dos trabalhos, é o cronograma para o desenvolvimento de
atividades que envolvam as comunidades. O trabalho comunitário
é lento e muitas vezes desanimador se tomarmos por base
o imediatismo exigido pelo contexto empresarial.
Por isto, trabalhar
com as relações públicas em um complexo empresarial tem
sido tarefa cada vez mais difícil quando buscamos dar a
esta atividade a sua motivação principal: o público enquanto
coletivo, e não como peça de apoio a campanhas de marketing
na conquista de clientes-alvos. As relações públicas têm
que ser colocadas a serviço da criação de um ambiente coletivo
de públicos em torno da empresa. Só assim será possível
a aproximação entre empresa e cliente que tanto se procura.
O indivíduo não quer ser tratado como objeto de marketing,
mas como sujeito do sua realidade.
Nesta perspectiva é
importante resgatar os princípios humanos e éticos de nossa
profissão. Ou seja, é fundamental colocar em nossa atividade
a idéia da comunicação como ato de compartilhar.
A ansiedade natural
que temos, de realizar e produzir projetos que tenham repercussão
para a imagem da empresa, tem que ser substituída pela visão
de programas de média e longa duração. O compromisso social
requer do profissional uma nova postura.
Por vezes faz-se necessário
ir ao caos social para poder se envolver com a real dimensão
da problemática de seu público-alvo, para então poder assumir
compromissos com a criação de um ambiente mais digno de
vida social.
Cabe ao profissional
ir a campo para conhecer e problematizar a realidade em
conjunto com o público-alvo, desvendando o conflito e fazendo
seu diagnóstico a partir dos elementos fornecidos pelos
que participam do problema. Para isto requer-se interação
e trabalho constante. Não há como prever o tempo para este
diagnóstico através de um cronograma, porque isto pode exigir
meses de relacionamento até conseguir a confiança do grupo
e sua abertura para o reconhecimento das reais proporções
do conflito. Em geral, quando estamos nesta convivência
a realidade que vai se desvelando apresenta muitos nós e
a problemática de seus públicos tem que ser visualizada
numa perspectiva histórico-cultural, seguindo os parâmetros
dialéticos de entendimento. É o momento da caracterização
dos públicos envolvidos.
Quando o grupo se conscientiza
sobre sua realidade e percebe-se como agente de transformação,
inicia-se um trabalho de verdadeiro desenvolvimento comunitário
onde naturalmente o grupo resolve fazer um levantamento
das prioridades a partir de suas próprias condições físicas
e econômicas, como também do engajamento da comunidade neste
processo.
Se o trabalho seguisse
uma proposta assistencialista, a ação seria planejada pelo
profissional e todo este envolvimento da população não seria
necessário, mas, tratando-se de um processo que quer transformar
a população num público responsável pelo seu próprio meio
e sua história, a comunicação é o elemento de conscientização
e integração do grupo, uma vez que compartilha informações
e proporciona a participação através do estabelecimento
de parcerias na busca da sua integração e consecução de
objetivos comuns.
Como exemplo de um trabalho
institucional nesta dimensão, citamos o que foi desenvolvido
pela Xerox do Brasil com os projetos Fábrica da Esperança
e também com o Projeto Olímpico, desenvolvido na Universidade
de São Paulo e na Mangueira (Rio de Janeiro), voltados à
formação profissional e esportiva de crianças que vivem
à margem da sociedade, desprovidas das condições mínimas
de crescimento intelectual, econômico e social.
O Projeto Olímpico Mangueira/Xerox,
criado em 1987 e o USP/Xerox, criado em 1992, levam a crianças
e adolescentes oportunidades de vida antes totalmente fora
de seu alcance, através do esporte.
O projeto Fábrica de
Esperança é desenvolvido na comunidade de Acari, uma das
mais miseráveis comunidades do Rio de Janeiro, pela Gerência
de Assuntos Corporativos e Relações com a Comunidade. Montado
em uma fábrica desativada, este complexo, aos poucos, torna-se
um grande centro social, abrangendo escolinhas de esporte,
creche, serviços de atendimento médico e odontológico, salas
de aulas, oficinas, teatro e centro de convenções. Já a
partir de 1994, a Xerox estabeleceu ali dois projetos, batizados
de Fábrica 1 e Fábrica 2. Com programas voltados a faixas
etária distintas, eles oferecem oportunidade de profissionalização
e direcionamento para o mercado de trabalho.
Em todos os projetos
há uma estreita parceria entre empresa e comunidade, dividindo-se
responsabilidades no seu gerenciamento e na busca de auto-sustentação.
Seguindo este mesmo
objetivo de aliar ao conceito da empresa um real compromisso
com o desenvolvimento comunitário, citamos ainda o Projeto
Futuro desenvolvido pela Fundação Rezende Barbosa, pela
Usina Macaraí e pelo Grupo Nova América, localizados na
cidade de Tarumã (SP). O projeto nasceu como fruto de uma
política estratégica da área de Recursos Humanos e Comunicação
Empresarial da Macaraí, procurando desvincular do conceito
da usina o estigma decorrente das ações dos usineiros do
nordeste do País, muitas vezes objeto de especulação e questionamento
da comunidade por falta de um maior envolvimento da empresa
com ações de fato comunitárias, que não as de cunho assintencialistas
com doações a creches e orfanatos que não exigem maiores
compromissos por parte das empresas.
As atividades desenvolvidas
pelo Projeto Futuro deram à Usina Macaraí e ao Grupo Nova
América o título de empresa Amiga da Criança, concedido
pela Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança. O projeto
visa desenvolver crianças e jovens na faixa etária entre
sete e dezoito anos. Iniciado na Usina Macaraí em 1987,
o projeto atinge, hoje, as demais unidades do Grupo Nova
América. Integra atividades sociais, culturais, recreativas
e de formação profissional, aproximando e integrando os
participantes do ambiente das empresas que pertencem às
comunidades de Frutal do Campo, Tarumã, Assis e Macaraí,
comportando, exclusivamente, crianças e jovens regularmente
matriculados na rede oficial de ensino. Além das atividades
específicas de cada subprojeto Horta, Banda, Teatro,
Coral e Menor Aprendiz , o Projeto Futuro oferece
uniforme, lanche, material escolar, assistência médica,
assistência psicológica, medicamentos, orientação vocacional,
palestras temáticas e oportunidades de emprego por meio
de seleções internas nas empresas do Grupo Nova América.
Intenciona-se também
buscar caminhos e alternativas de convivência social através
da abertura de canais de comunicação e de outras estratégias
de relações públicas que ampliem os espaços de participação
comunitária interna e externamente.
A ação profissional
é definida pela base que sustenta seus trabalhos: os públicos.
A prioridade é estabelecida no relacionamento empresa/públicos.
O objetivo primeiro é atender as necessidades emergentes
deste processo, de maneira interativa, buscando a transformação
e, quem sabe, a superação da realidade. A empresa que adota
como política tal interação social acaba por ganhar um novo
paradigma sociocultural que define suas ações.
Imaginamos que alguns
leitores estejam se perguntando: por que a empresa faria
isto?... Por uma questão de sobrevivência. Não se trata
de boa ação ou assistencialismo, mas de uma postura comprometida
com o real crescimento da sociedade, porque dele depende
a empresa (Demo, 1988).
E, sem dúvida, a empresa
ganha um conceito junto aos seus públicos de interesse.
Apesar de não existir
uma fórmula para o desenvolvimento desta prática profissional,
já elencamos alguns passos que consideramos básicos: iniciamos
pelo reconhecimento do conflito e por sua problematização
(função pesquisa), onde se faz a caracterização dos públicos
envolvidos (análise dialética, feita na perspectiva
vertical e horizontal), e por último comentamos sobre o
levantamento das prioridades dos públicos, onde a
empresa se adequa e negocia os diferentes interesses.
Já a etapa da conquista
dos aliados e da consulta a especialistas
consideramos ser uma constante na atividade do profissional
que busca o desenvolvimento comunitário. Fazemos isto quando
convencemos a diretoria sobre a importância deste trabalho,
quando ganhamos a confiança da comunidade, quando procuramos
a participação/envolvimento de outras entidades e pessoas
dentro da atividade, enfim, quando ampliamos nosso campo
de ação e tornamos a atividade de relações públicas um efetivo
trabalho de relacionamento público.
Por último, as estratégias
de ação e sua constante avaliação. As funções
assessoria, comunicação, planejamento e pesquisa estão presentes
neste momento, conhecendo as necessidades de nosso cliente
e agora formando uma parceria entre empresa e comunidade,
tanto na elaboração como no planejamento das ações e dos
programas comunitários, sendo que a avaliação é permanente
neste processo.
Consideramos que o alicerce
do trabalho comunitário é a participação comprometida do
profissional com seus públicos, seja em uma comunidade,
seja numa empresa. Não se trata, então, de novas técnicas,
mas de uma mudança de postura profissional. É contemplar
a realidade numa nova ótica, onde o ser social é, antes
de tudo, ser humano e busca sua dignidade.
Enfim, não é possível
dar o "passo-a-passo", a "receita" tão
desejada por todos nós, para a atuação do profissional na
perspectiva das relações públicas comunitárias, até porque
não se trata de uma habilitação ou especialidade das relações
públicas, mas de uma mudança de postura metodológica, de
referencial para conhecer a sociedade e nela atuar. Vai
além de um marketing institucional, porque não quer somente
os benefícios da imagem da empresa, mas abrir verdadeiros
canais de comunicação entre a organização e seus públicos,
sem restrições: acionistas, consumidores, imprensa, fornecedores
e, por que não?, a comunidade.
BIBLIOGRAFIA
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São Paulo: Intercom, v.XVI, n.2, jul./dez.93.
Trabalho originalmente publicado na revista Comunicação
& Sociedade, editada pelo Programa de Pós-Graduação
em Comunicação Social da UMESP.
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* Regina Célia Escudero César é professora
de Comunicação da Universidade Estadual de
Londrina e mestre em Comunicação Social pela
UMESP.