Andréa Clara Batista*
Resumo
A comunicação é vital
para o sucesso das organizações diante do regime democrático
e da economia internacionalizada que estamos vivendo. O
que não podemos esquecer é que a comunicação é ciência,
tem contornos e princípios próprios e as empresas têm responsabilidades
enquanto entidade-cidadã estando envolvida com a situação
que o país atravessa.
No entanto, o dramático
processo de transformação por que passam as empresas dificulta
a maneira de perseguir os objetivos de negócio da empresa
que garantem um claro alinhamento estratégico dos produtos
de comunicação.
Assim, a comunicação
é uma ferramenta estratégica de gestão, de uso interno e
externo, sendo o foco de atenção e de (r)evolução permanente
na empresa.
Empresas que pretendem
sobreviver no mercado e, conseqüentemente crescer, têm como
premissa a adoção de uma atitude transparente diante de
seus públicos, divulgando constantemente sua cultura, valores
e projetos. É imperioso apresentar claramente sua filosofia
e missão econômica e social através da comunicação empresarial.
Infelizmente ainda é
percebido, nas empresas do denominado novo milênio, processos
comunicacionais fragmentados e sem política definida, configurando
uma estrutura parcial de comunicação. Isso acontece pois
diversas tendências têm modificado e ampliado as maneiras
de como é possível se comunicar com os públicos. Assim,
a comunicação empresarial vem assumindo uma importância
cada vez maior.
Um fato a ser destacado
é que, freqüentemente, processos comunicativos deliberados
trazem monumentais desenvolvimentos e mudanças. Também é
verdade que um grande número de esforços de comunicação
falham, pois eles dependem de uma série de condições e circunstâncias
tais como: fidelidade da mensagem, habilidade e experiência
do comunicador, linguagem adequada, nível de importância
que é dado aos processos comunicacionais e, principalmente,
a ausência de uma comunicação interna participativa e coerente
entre o discurso e a prática cotidiana da empresa.
Como afirma Wilson Bueno
(2000: p.50), "a comunicação empresarial evoluiu de
seu estágio embrionário, em que se definia como mero acessório,
para assumir, agora, uma função relevante na política negocial
das empresas. Deixa, portanto, de ser atividade que se descarta
ou se relega a segundo plano, em momentos de crise e de
carência de recursos, para se firmar como insumo estratégico,
de que uma empresa ou entidade lança mão para idealizar
clientes, sensibilizar multiplicadores de opinião ou interagir
com a comunidade".
O entendimento do novo
cenário oferece à comunicação empresarial, por um lado,
uma chance inigualável de afirmação e do outro, sérios desafios
à atividade, como por exemplo: atrelar, definitivamente,
a comunicação aos objetivos estratégicos da organização,
aproximar dos seus clientes internos e atuar de forma integrada
das outras funções da empresa. Assim, torna-se fundamental
incorporar novos valores, novos processos de gestão e sobretudo,
novas formas de relacionamento com a sociedade.
Para Rodolpho Bertola
(1988:02) "A empresa vem descobrindo que pode aumentar
suas ligações com a comunidade, exercendo o papel de patrocinadora,
produtora ou mesmo completando a ação do governo através
da realização de benefícios públicos nas áreas de saúde,
de educação e de lazer, da arte e da cultura de modo geral".
Em uma organização,
quando o objetivo é informar, a tonalidade de sua comunicação
deve destinar-se a criar uma atmosfera racional e prática.
A melhor maneira de implantar esse modelo racional é através
de um clima de serena credibilidade.
Segundo Neusa Santos
(1994: p.97), "clima organizacional é um conceito de
grande importância para ajudar a descrever as percepções
e os sentimentos das pessoas com relação às organizações,
aos grupos e às tarefas em que estão envolvidas. O estudo
do clima organizacional agrega um conjunto de atributos
específicos, que caracterizam uma particular organização
e que estão percebidos diretamente pelos seus membros. A
pesquisa de clima vai refletir o modo como a empresa lida
com seus colaboradores, influenciando o comportamento dos
indivíduos".
Merece destaque a importância
da pesquisa de clima organizacional como um instrumento
de auxílio à gestão administrativa. Também seria útil lembrar
que o estudo de clima organizacional se constitui em um
excelente canal de comunicação entre os níveis organizacionais
mais altos e os demais existentes na empresa, tendo em vista
o avanço das novas tecnologias de comunicação.
Ainda segundo Wilson
Bueno (2000:P.51), "a comunicação, portanto, potencializada
pelas novas tecnologias, tem o condão de desencadear um
processo, não controlável, que, ao instaurar desconfiança
ou euforia, altera o ritmo das coisas, sintonizada que está
com a volatilidade da 'nova economia'".
A comunicação da "nova
economia" deve valorizar o destinatário que apresenta-se
ativo, ou seja, ele elege o que quer saber e precisa ter
a possibilidade de livre acesso à informação para absorver
e compreender o conteúdo da mensagem.
Segundo Norberto Odebrecht
(1998: p. 53) "as únicas forças que existem concretamente
numa organização são os líderes e suas equipes, os respectivos
negócios e a comunicação entre eles; tudo mais é conseqüência".
Os líderes adquirem
um papel importante, pois, a delegação de responsabilidades
e autoridade é considerada o motor do crescimento das organizações.
Ainda de acordo com
Odebrech (1998: p. 80/81), a comunicação "é o instrumental
de mão dupla que liga o líder ao liderado, pela via do contato
pessoal e direto. Por meio dela, o liderado solicita o obtém
o apoio do líder para superar os resultados pactuados, bem
como ambos acompanham, avaliam e julgam o desempenho do
liderado.
Na verdade a comunicação
permitirá que o acompanhamento, a avaliação e o julgamento
dos resultados. Por isso, deve envolver todos os atores
que direta ou indiretamente participem do processo de satisfação
do cliente, a fim de que todos possam compartilhar do mesmo
sentimento de missão e oferecer sua contribuição para o
sucesso.
Por esta abordagem,
as informações que fluem continuamente pelo sistema de comunicação
mantém a organização em permanente sintonia com o cliente
e com ela mesma como um todo.
Afinal, sem informações
qualitativas e quantitativas, fidedignas e que cheguem no
momento certo, o conhecimento se deteriora; a capacidade
de desaprender, aprender e reaprender se embota; a liderança
emigra em direção àqueles que saibam como obter a informação
certa e tratá-la adequadamente.
Faz-se necessário muita
criatividade nos processos comunicacionais e mudança comportamental
na análise dos consumidores. Afinal é o consumidor quem,
de fato, detém o poder nas empresas, pois somente ele é
capaz de transformar em riqueza os serviços e bens que lhe
são oferecidos.
É preciso ter bem presente
que esse tipo de usuário o consumidor - irá valorizar
cada vez mais iniciativas que visem à produção sem desperdícios,
à conservação do meio ambiente, bem como à promoção da saúde,
da segurança e bem-estar dos consumidores, trabalhadores
e comunidade em geral.
Assim, ao desenvolver
propostas comunicacionais, as empresas devem levar em conta
que o público externo é atingido por ações de comunicação
de marketing e corporativa.
A comunicação corporativa
refere-se à importância e ao valor da marca, da necessidade
de posicioná-la estrategicamente e dos mecanismos utilizados
para atingir os objetivos de comunicação que visam, fundamentalmente,
buscar, informar e promover a percepção dos públicos em
relação a uma empresa.
Sem dúvida, o consumidor
tem um destaque importante. Como já foi mencionado anteriormente,
ele é quem dá legitimidade ao produto e/ou serviço. Assim,
o investimento deve ser dirigido sobre o que o consumidor
deseja.
Todavia, além do foco
no negócio e no consumidor, a gestão deve buscar continuamente
a melhoria dos serviços e produtos comunicacionais. Isso
exige controle e avaliação permanentemente dos resultados.
Na busca da melhoria
contínua, a comunicação não pode ser considerada como uma
área subjetiva e impalpável. Para obtenção de credibilidade,
é necessário o uso de instrumentos de medição do desempenho
de cada atividade de comunicação, conforme sua natureza
e grau de desenvolvimento. No entanto, na gestão da comunicação,
um dos maiores desafios é medir os efeitos comunicacionais.
Assim torna-se imprescindível
analisar com cuidado as ameaças e oportunidades do ambiente,
ponderar suas forças e fraquezas, identificar as necessidades
dos seus clientes e planejar suas ações com pragmatismo,
levando em conta sua disponibilidade de recursos humanos
e financeiros.
Talvez esteja aí a necessidade
de gestão compartilhada, em que a comunicação precisa estabelecer
parcerias internas com áreas como Recursos Humanos, Marketing,
Informática, dentre outras.
O estabelecimento de
parcerias se deve ao fato de permitir trabalhar de forma
conjunta em função do fortalecimento da imagem institucional,
evitando o desentendimento e a competição prejudicial.
O problema consiste
no não rompimento do paradigma segundo o qual a comunicação
é uma atividade incontrolável e imprevisível que aumenta
a distância do foco nos resultados do negócio. O desafio
das empresas envolve a democratização e a humanização dos
processos organizacionais, tarefa não muito fácil.
Para Chiavenato (1999:
p. 104) "os paradigmas da normalidade artificial não
resistem aos novos tempos de transformações rápidas e radicais.
A eficiência deixou de ser a base referencial à produtividade
da mesma forma que as relações hierarquizadas de poder e
de regulamentação das comunicações.(...) O paradigma vitorioso
é agir rápido, lucrar logo e descartar ligeiro, em favor
de novas demandas e propostas.
É preciso lembrar que
segundo o diretor corporativo de Recursos Humanos e responsável
pela área de comunicação social das Empresas Petróleo Ipiranga,
Sergio W. Hillesheim, "o público interno é um formador
de opinião e sua empatia em relação à empresa vai além de
seus limites físicos, podendo propagar-se pelo mercado de
um modo geral. O público interno pode ser defensor ou detrator
da organização, dependendo da forma como é tratado e da
consideração que recebe quanto às informações que de direito
lhe são devidas".
Trabalhar a comunicação
interna é muito mais que informar funcionários das decisões
da diretoria e das novas regras que devem ser observadas
para o comportamento em situações diversas. Exige sensibilidade
pra perceber que o diálogo não deve ser procurado apenas
em situações de emergência e que manter a credibilidade
dos empregados na organização é uma atitude democrática
que contribui para a harmonia na relação capital/trabalho,
líder/liderado, empresa/empregado, ou como é denominado
atualmente, colaborador.
Analisar o perfil das
relações afetivas, emocionais e profissionais entre a empresa
e os empregados nem sempre é um objeto de investigação sistemática
por parte das empresas. Assim como fornecer, obter e utilizar
informações adequadas, no momento certo, saber ouvir ou
ler opiniões, bem como transmitir com precisão o pensamento,
por meio da fala ou da escrita.
Há que se reconhecer
que uma empresa age em função de resultados objetivos. Os
avanços da ciência administrativa revelam que a forma mais
eficiente de atuar é buscar nos seu público interno o que
ele tem de melhor a oferecer: criatividade e iniciativa.
Um fator indiscutível
de sucesso nos processos comunicacionais é dar ao público
interno uma importância igual a todos os demais assuntos
e saber que à frente do desenvolvimento empresarial estão
as estratégias de comunicação estruturadas e identificadas
com o ambiente de negócio.
O estabelecimento do
diálogo com os funcionários e a preocupação com sua satisfação
representa uma posição moderna no tratamento entre "quem
produz" e o "dono da produção". Muitas empresas
já estão atentas à criação e desenvolvimento de programas
sociais internos nas áreas de saúde, higiene, segurança,
treinamento, esporte, lazer cultura, seguridade, dentre
outros.
O desempenho da comunicação
interna é fundamental para que os colaboradores se comprometam
com o sucesso da empresa e para isso precisam estar constantemente
informados sobre os objetivos e metas da sua organização,
e ainda terem autonomia para exercitar escolhas e opções.
A comunicação é um mecanismo
da ideologia empresarial que visa obter, junto aos colaboradores,
objetivos pré-determinados. Questiona-se e condena-se a
direção única dos meios indiretos de comunicação: eles apenas
informam sem saber se chegam até o público alvo ou se são
e como são decodificados.
A comunicação empresarial
é a maneira mais eficiente de agregar valor ao serviço que
se presta, para dentro e fora da empresa.Um plano de comunicação
resulta do profundo conhecimento da empresa e de sua realidade
de negócio, conjugado à criatividade e ao domínio das modernas
técnicas da comunicação. Portanto, o plano de comunicação
deve conter soluções para enfrentar os desafios impostos
pelo cenário competitivo.
Conclusão
Embora o processo
de comunicação seja imprescindível para qualquer organização
social, o fato de existir uma comunicação empresarial formalizada,
não garante que todos os problemas da empresa sejam resolvidos.
Afinal o aspecto relacional da comunicação do dia-a-dia
nas organizações, que interna ou externamente, sofre interferências
e condicionamentos variados dado o volume e os diferentes
tipos de comunicações existentes.
Para as empresas sobreviverem
aos desafios do novo milênio será necessário não só a adoção
de uma estrutura de comunicação profissionalizada e integrada
ao processo de decisão, como também, a incorporação de novos
valores, processos de gestão - incluindo constante avaliação
dos efeitos comunicacionais - e novas formas de relacionamento
com a sociedade assumindo de forma plena a sua responsabilidade
social.
É preciso não somente
prever problemas, mas corrigi-los antes que eles interfiram
e estabelecer um clima previsível e favorável.
Segundo Odebrecht (1998:
p.52) "o melhor instrumento de que dispõem os seres
humanos para antecipar-se ao curso dos acontecimentos é
uma empresa concebida e dirigida a partir de uma estratégia,
ambas capazes de aperfeiçoar-se com o correr do tempo".
Esses são os
desafios com que se defronta hoje a área de comunicação.
Com isso ganha força a necessidade da comunicação
tornar-se função de toda a organização,
incorporando-se ao papel gerencial, integrando -se efetivamente
ao processo de decisão da empresa.
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* Andréa Clara Batista é relações
públicas, mestranda em Comunicação
Social na UMESP - Universidade Metodista de São Paulo.